"Se hoje eu me pergunto por que amo a literatura,
a resposta, que de forma espontânea vem à minha cabeça é: porque me ajuda a
viver. Já não lhe peço, como na adolescência, que me evite as feridas que
poderia sofrer nos meus contatos com pessoas reais. Mais que excluir as
experiências vividas, me permite descobrir mundos que situam- se em
continuidade com elas e entendê- las melhor. Creio que sou o único que a vê
assim. A literatura, mais densa e eloquente que a vida cotidiana, mas não
radicalmente diferente, amplia o nosso universo, nos convida a imaginar outras
maneiras de concebê- lo e de organizá- lo. Todos nos conformamos a partir do
que nos oferecem as outras pessoas: a princípio nossos pais, depois os que nos
rodeiam. A literatura abre até o infinito esta possibilidade de interação com
os outros, portanto, nos enriquece infinitamente. Nos oferece sensações
insubstituíveis que fazem que o mundo real tenha mais sentido e seja mais belo.
Não é só um simples divertimento, uma distração reservada às pessoas mais
cultas, senão, permite que todos respondamos melhor a nossa vocação de seres
humanos."
( tradução: Fernanda Jiménez, "La literatura en
peligro", Tzvetan Todorov, p.17).
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