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Karl Emil Maximilian Weber (pronúncia em alemão: ˈmaks ˈveːbɐ;
Erfurt, 21 de abril de 1864 — Munique, 14 de junho de 1920) foi um intelectual,
jurista e economista alemão considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu
irmão foi o também famoso sociólogo e economista Alfred Weber. A esposa de Max
Weber, Marianne Weber, biógrafa do marido, foi uma das alunas pioneiras na
universidade alemã e integrava grupos feministas de seu tempo.
É considerado um dos fundadores do estudo moderno da
sociologia, mas sua influência também pode ser sentida na economia, na
filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Começou sua
carreira acadêmica na Universidade Humboldt de Berlim e, posteriormente,
trabalhou na Universidade de Freiburg, na Universidade de Heidelberg, na
Universidade de Viena e na Universidade de Munique. Personagem influente na
política alemã da época, foi consultor dos negociadores alemães no Tratado de
Versalhes (1919) e da comissão encarregada de redigir a Constituição de Weimar.
Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi
reservado para o estudo do capitalismo e do chamado processo de racionalização
e desencantamento do mundo. Mas seus estudos também deram contribuição
importante para a economia.
Sua obra mais famosa são os dois artigos que compõem A ética
protestante e o espírito do capitalismo, com o qual começou suas reflexões
sobre a sociologia da religião. Weber argumentou que a religião era uma das
razões não-exclusivas do porque as culturas do Ocidente e do Oriente se
desenvolveram de formas diversas, e salientou a importância de algumas
características específicas do protestantismo ascético, que levou ao nascimento
do capitalismo, da burocracia e do estado racional e legal nos países
ocidentais. Em outro trabalho importante, A política como vocação, Weber
definiu o Estado como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso
legítimo da força física", uma definição que se tornou central no estudo
da moderna ciência política no Ocidente. Em suas contribuições mais conhecidas
são muitas vezes referidas como a "Tese de Weber".
Biografia[editar | editar código-fonte]
Max Weber e seus irmãos, Alfred e Karl, em 1879
O jovem Max foi o primeiro de sete filhos de Max Weber,
advogado e político, membro do Partido Nacional Liberal, e de Helene
Fallenstein, uma descendente de imigrantes huguenotes franceses. A família
estimulou intelectualmente os jovens Weber desde a tenra idade. Seu irmão
Alfred Weber, quatro anos mais jovem, também se tornaria sociólogo, mas,
sobretudo, um economista, que também desenvolveu uma importante sociologia da
cultura.
Em 1882, Max Weber matriculou-se na Faculdade de Direito da
Universidade de Heidelberg, onde seu pai havia estudado, frequentando também
cursos de economia política, história e teologia. Em 1884 voltou para casa
paterna e se transferiu para a Universidade de Berlim, onde obteve em 1889 o
doutorado em Direito e em 1891 a tese de habilitação, ambos com escritos da
história do direito e da economia.
Depois de completar estudos jurídicos, econômicos e
históricos em várias universidades, se distingue precocemente em algumas
pesquisas econômico-sociais com a Verein für Sozialpolitik (associação fundada
em 1872 pelos economistas associados à Escola historicista alemã de economia à
qual Weber já tinha aderido em 1888.
Max Weber e sua esposa Marianne em 1894
Em 1893 casou-se com Marianne Schnitger, mais tarde uma
feminista e estudiosa, bem como curadora póstuma das obras de seu marido.
Atualmente, a publicação de sua correspondência íntima também revelou seus
relacionamentos com Else von Richtoffen e Mina Tobler, levando muitos
especialistas a revisarem a importância do amor e do erotismo em sua obra.
Foi nomeado professor de Economia nas universidades de
Freiburg em 1894 e de Heidelberg em 1896. Entre 1897, ano em que seu pai
morreu, e 1901 sofreu de uma aguda depressão, de modo que do final de 1898 ao
final de 1902 não realizou atividades regulares de ensino ou científicas. Neste
período ele esteve em alguns sanatórios e fez diversas viagens pela Europa
tendo ficado vários meses na cidade de Roma onde recuperou as forças.
Curado, no Outono de 1903 renunciou ao cargo de professor e
aceitou uma posição como diretor-associado do recém-nascido Archiv für
Sozialwissenschaft und Sozialpolitik (Arquivos de Ciências Sociais e Política
Social), com Edgar Jaffé e Werner Sombart como colegas: nesta revista
publicaram em duas partes, em 1904 e 1905, o artigo-chave A Ética Protestante e
o Espírito do Capitalismo. Naquele mesmo ano, visitou os Estados Unidos. Graças
a uma enorme renda privada derivada de uma herança em 1907, ainda conseguiu se
dedicar livremente e em tempo integral aos seus estudos, passando da economia
ao direito, da filosofia à história comparativa e à sociologia, sem ser forçado
a retornar à docência. Sua pesquisa científica abordou questões
teórico-metodológicas cruciais e tratou complexos estudos
histórico-sociológicos sobre a origem da civilização ocidental e seu lugar na
história universal.
Durante a Primeira Guerra Mundial, serviu como diretor de
hospitais militares de Heidelberg e ao término do conflito, voltou ao ensino da
disciplina de economia, primeiro em Viena e em 1919 em Munique, onde dirigiu o
primeiro instituto universitário de sociologia na Alemanha. Em 1918 ele estava
entre os delegados da Alemanha em Versalhes para a assinatura do tratado de paz
e foi conselheiro para os redatores da Constituição da República de Weimar.
Encontra-se sepultado no Cemitério de Bergfriedhof de
Heidelberg, em Baden-Württemberg na Alemanha.
Escritos e obras[editar | editar código-fonte]
A ética protestante e o espírito do capitalismo, 1ª edição,
1904
Dentre as influências que a obra de Weber manifesta, podemos
enxergar também seu diálogo com filósofos como Immanuel Kant e Friedrich
Nietzsche e com alguns dos principais sociólogos de seu tempo, como Ferdinand
Tönnies, Georg Simmel e Werner Sombart, entre outros.
Dentre as principais obras do autor - organizadas
postumamente pela sua esposa Marianne Weber - constam os seguintes títulos:
1889: A história das companhias comerciais na idade média
1891: O direito agrário romano e sua significação para o
direito público e privado
1895: O Estado Nacional e a Política Econômica
1904: A objetividade do conhecimento na ciência política e
na ciência social
1904: A ética protestante e o espírito do capitalismo
1905: A situação da democracia burguesa na Rússia
1905: A transição da Rússia a um regime pseudoconstitucional
1906: As seitas protestantes e o espírito do capitalismo
1913: Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva
1917/1920: Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião
1917: Parlamento e Governo na Alemanha reordenada
1917: A ciência como vocação
1918: O sentido da neutralidade axiológica nas ciências
políticas e sociais
1918: Conferência sobre o Socialismo
1910/1921: Economia e Sociedade
Dentre seus escritos mais conhecidos destacam-se A ética
protestante e o espírito do capitalismo (1904), a obra póstuma Economia e
Sociedade (1920), A ciência como vocação (1917) e A política como vocação
(1919) .
Primeiros trabalhos[editar | editar código-fonte]
Os primeiros textos acadêmicos de Weber estão ligados a
trabalhos desenvolvidos em sua formação na estrutura universitária alemã. O
primeiro estudo propriamente dito foi sua tese de doutoramento intitulada A
história das companhias comerciais da idade média. Esta tendência para combinar
análise jurídica com análise histórica continua com seu próximo trabalho (tese
de habilitação), chamado A história agrária romana. Aqui ele analisa a
estrutura da propriedade agrária de Roma em sua fase tardia e suas repercussões
na legislação pública e privada. Ainda que seja um escrito bastante técnico,
ele procura contextualizar sua pesquisa no âmbito histórico, o que já demonstra
a preocupação social de suas investigações.
Durante seu período como professor universitário, Weber
dedicou-se ao ensino da economia política e de questões agrárias, uma de suas
especialidades. Como professor de economia, ele debateu os valores e limite das
principais correntes de pensamento de seu tempo: a Escola Histórica de
Economia, a Escola Marginalista (predominante na Áustria) e a Escola Marxista.
Neste período Weber também publicou um texto introdutório chamado "A
bolsa", para divulgar e promover o entendimento do funcionamento econômico
do capital financeiro.
A aproximação com os temas sociais está ligada à pesquisa
empírica de Weber na região do Leste do rio Elba. Analisando processo
migratório de poloneses na fronteira da Alemanha, Weber destacou as tendências
da introdução do capitalismo no campo e deu especial atenção às consequências
políticas daquele processo. Aplicando diversos questionários e levantando inúmeros
dados ele concluiu que o acelerado processo de modernização econômica da
Alemanha estava minando a estrutura de poder da classe dirigente: a
aristocracia agrária (denominada de classe Junker). Tal visão foi especialmente
apresentada em uma Aula Inaugural pronunciada em 1895 e denominada O Estado
Nacional e a Política Econômica. Neste período Weber notabilizou-se como um dos
grandes especialistas de questões e problemas agrários, refletindo sobre as
consequências com os reflexos do capitalismo na esfera rural.
Profundamente envolvido com a vida acadêmica, a produção de
Weber sofre uma interrupção a partir de 1897. É somente depois desta fase que a
produção sociológica de Weber começa a delinear-se.
A objetividade do conhecimento[editar | editar código-fonte]
Em 1903, junto com Werner Sombart e Edgar Jaffé, Weber funda
o Arquivo para a Ciência Social e a Ciência Política. No texto que escreveu
para a revista, intitulado A objetividade do conhecimento na ciência política e
social (de 1904) ele apresentou sua posição na discussão sobre os métodos das
ciências econômicas, polêmica que sacudia o mundo universitário da época.
A tradição alemã de filosofia social tinha suas origens em
Immanuel Kant. Mas, a tentativa de fundamentar as ciências históricas com o
pensamento kantiano inicia-se apenas com o trabalho de Wilhelm Dilthey, em
1883. A reivindicação fundamental do seu trabalho foi mostrar o estatuto
ontológico diferenciado das ciências históricas e sociais diante das ciências
da natureza. Na Alemanha este esforço continuou com os trabalhos de Wilhelm
Windelband e Heinrich Rickert. No campo da economia, esta tendência também era
representada por Gustav von Schmoller.
Max Weber não se enquadrava diretamente em nenhuma destas
posições. Com a escola neo-kantiana, ele concorda com o fato de que as ciências
humanas lidam com o fenômeno do valor. Só analisamos aqueles elementos da realidade
que tem algum sentido para nós, a partir de nossas referências de valor. Tal
posição fora retirada por Weber de Heinrich Rickert. Mas, nem por isso ele
rejeitava o valor da imputação causal nas ciências humanas, pois eram um
instrumento indispensável para a explicação dos mecanismos de entendimento da
vida social. Em síntese, Weber propunha a unificação das ciências humanas
integrando a "verstehen" (compreensão) e a "erklären"
(explicação) em uma visão dual mas não dualista da ciência .
O principal problema desta posição, contudo, é que elas
colocavam em questão o valor objetivo da ciência. Weber reconheceu que toda
pesquisa tem um ponto de partida subjetivo (ligado a referência de valor do
pesquisador), mas entendeu que este dado não destruía a objetividade da
ciência. O valor cognitivo da ciência social reside na sua capacidade de
controlar a pesquisa mediante métodos sistemáticos e padronizados de trabalho.
O ponto de partida da investigação até pode ser subjetivo, mas seu ponto de
chegada deverá ser rigorosamente objetivo.
Alicerçado na noção kantiana de a priori, Weber também
desenvolveu a noção de tipo ideal . Tal conceito mostra que as categorias da
ciência social são uma construção subjetiva do pesquisador, feita a partir de
seus interesses. Como tais, eles selecionam na realidade, sempre complexa e
caótica, certos elementos que serão aglutinados como um tipo idealmente
perfeito. Conceitos não emanam diretamente da realidade (visão hegeliana), nem
são formados apenas por abstração de elementos comuns e genéricos (visão
aristotélica), pois eles implicam acentuar determinados elementos para que eles
possam ser compreendidos. Trata-se de reunir o caos inesgotável da realidade em
conceito compreensíveis.
Ainda que Weber não tenha defendido uma visão rigorosamente
dualista da ciência, o escrito "A objetividade do conhecimento na ciência
política e na ciência social" constitui ainda hoje o principal texto para
quem defende uma visão não naturalista de ciência, ou seja, que defende a tese
de que as ciências humanas são essencialmente diferenciadas das demais ciências
de corte empírico-natural .
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo[editar |
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A ética protestante e o espírito do capitalismo[1] é
considerada a grande obra de Max Weber e é o seu texto mais lido e conhecido. A
primeira parte desta obra foi publicada em 1904 e a segunda veio a público em
1905, depois da viagem do autor e de sua esposa aos Estados Unidos. Uma segunda
versão da obra, revisada pelo próprio Weber, com diversos acréscimos, foi
publicada em 1920.
A temática das relações entre religião e capitalismo foi uma
questão central do pensamento social alemão. Do ponto de vista da análise do
capitalismo, o estudo de Weber foi precedido pela obra de Georg Simmel - A
filosofia do dinheiro (1900) -, sem esquecer do escrito de Karl Marx,
intitulado O Capital (1867). Dois anos antes da publicação do livro de Weber,
seu colega Werner Sombart também publicou um livro sobre esse problema,
intitulado O capitalismo moderno (1902) . Neste criativo e rico espírito
acadêmico, Weber procurou mostrar que o protestantismo de caráter ascético dos
séculos XVI e XVII tinha um influxo direto com o conceito de vocação
profissional, base motivacional do moderno sistema econômico capitalista.
Vejamos como a tese do livro é apresentada.
No capítulo introdutório, Weber mostra a preferência
educacional dos católicos por uma formação humanista, enquanto os protestantes
preferiam formação técnica. Ao mesmo tempo, mostrou as diferenças profissionais
entre ambos os segmentos. Weber rejeita a explicação (superficial e aparente)
de que a espiritualidade católica, fundada no ascetismo, predisporia o
indivíduo para o estranhamento do mundo e, desta forma, para a indiferença para
com os bens deste mundo; enquanto os protestantes seriam materialistas. Alega
que os puritanos se caracterizavam pelo oposto da alegria para com o mundo. Ao
contrário, ele sugere que há um íntimo parentesco entre estranhamento do mundo,
ascese e participação na vida aquisitiva.
O capítulo posterior trata do objeto da pesquisa, ou seja, é
neste momento que ele desenvolve o tipo ideal de "espírito do
capitalismo", entendido como uma individualidade histórica. Tomando como
exemplo máximas colhidas de escritos de Benjamin Franklin, tais como
"tempo é dinheiro" ou "dinheiro gera mais dinheiro" ou
ainda "o bom pagador é dono da bolsa alheia", Weber mostra que o
espírito do capitalismo não é caracterizado pela busca desenfreada do prazer e
pela busca do dinheiro por si mesmo. O espírito do capitalismo deve ser
entendido como uma ética de vida, uma orientação na qual o indivíduo vê a
dedicação ao trabalho e a busca metódica da riqueza como um dever moral. Weber
acentua claramente que o 'espírito' do capitalismo não deve ser confundido com
a 'forma' do capitalismo. Por forma, Weber entende o capitalismo enquanto
sistema econômico, cujo centro é representado pela empresa capitalista, reunião
de meios de produção, trabalho organizado e gestão racional. Ele esclarece que
as variáveis tratadas no seu livro tem a ver com a moral protestante e a
dimensão atitudinal (habitus) que serve de base ao sistema. O espírito do
capitalismo só pôde triunfar ao vencer as formas tradicionalistas de
comportamento econômico.
Passo seguinte, ele dedicou-se a analisar a contribuição do
luteranismo. Na tradução de Martinho Lutero, ao contrário da concepção
católica, "vocação" deixa de ter o sentido de um chamado para a vida
religiosa ou sacerdotal e passa a ter o sentido do chamado de Deus para o
exercício da profissão no mundo do trabalho. Com Lutero o ascetismo praticado
pelos monges fora do mundo é transferido das celas dos mosteiros para o mundo
secular, nasce daí o ascetismo intramundano. Todavia, o próprio Max Weber
reconheceu que o luteranismo ainda possui uma visão tradicionalista da vida
econômica: apesar da ênfase no trabalho, a vida aquisitiva ainda não possui um
valor em si mesma e o indivíduo está acomodado no seu círculo social.
Após, Weber destaca que o ponto de partida da ética
econômica subjacente ao capitalismo está no protestantismo pós-luterano, nas
chamadas igrejas e seitas do protestantismo ascético, tanto na sua versão
calvinista (derivada de João Calvino) quanto anabatista. Do calvinismo emana a
célebre tese da predestinação, dogma que afirma que "apenas Deus escolhe -
independente dos méritos do indivíduo - quem será salvo e quem será
condenado". Diante da angústia religiosa sofrida pelo indivíduo, o
trabalho e o sucesso na vida econômica surgem como compromissos do crente e
como indícios (embora não meio) de certeza da salvação. Apesar desta rígida
tese estar atenuada no pietismo e no metodismo, que são mais sentimentais, nas
igrejas de origem calvinista a riqueza recebe uma sanção positiva da esfera
religiosa. O mesmo processo pode ser verificado no âmbito das seitas que surgem
do movimento anabatista (rebatizados) - como os batistas, menonitas e quakers,
por exemplo - que, organizados em forma de seita, estimulam uma vida ordenada,
disciplinada e regida por rígidas normas éticas.
Analisando todo o processo em seu conjunto, Weber verifica
que dos dogmas e, em especial, dos impulsos morais do protestantismo, derivados
após a reforma de Lutero, surge uma forma de vida de caráter metódico,
disciplinado e racional. Da base moral do protestantismo surge não só a
valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma forma de vida
que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica férrea e coerente: uma
personalidade sistemática e ordenada. Sem estes impulsos morais não seria possível
compreender a ideia de vocação profissional, concepção que subjaz as figuras
modernas do operário e do empresário. A moral específica dos círculos
protestantes possuem uma relação de afinidade eletiva com o comportamento
(espírito) que subjaz ao sistema econômico moderno e, ainda que este não derive
apenas deste fator, trata-se de um impulso vital para o entendimento do mundo
moderno contemporâneo.
No final da Ética Protestante, Weber destaca que, apesar de
secularizada, ou seja, desprovida de fundamentos religiosos, a vida aquisitiva
da economia moderna generalizou-se para todo conjunto da vida social: os
puritanos queriam tornar-se monges, hoje todos temos que segui-los. Esta
avaliação também ganha contornos críticos, pois Weber constata que a lógica da
produção, do trabalho e da riqueza envolve o mundo moderno como uma "jaula
de ferro " e se pergunta qual o destino dos tempos modernos: o
ressurgimento de velhas ideias ou profecias ou uma realidade petrificada, até
que a última tonelada de carvão fóssil seja queimada? Em tons que lembram
Nietzsche, ele dirá ainda sobre os homens dos tempos atuais: especialistas sem
espírito, gozadores sem coração !
Esta visão crítica do capitalismo encorajou certos
pensadores marxistas (como Georg Lukács, Karl Löwith, Michael Löwy) a
ressaltarem algumas afinidades do seu pensamento com a visão marxista, corrente
que, sem menosprezar as sensíveis diferenças entre as duas formas de
pensamento, foi sendo denominada de webero-marxismo .No entanto, diferentemente
da visão marxista, que privilegia os fatores econômicos, Weber, coerente com
uma visão multicausal dos fenômenos sociais, destaca seus fatores culturais e,
mais tarde, enfatizará também a importância dos fatores materiais no surgimento
das instituições modernas .
A ética econômica das religiões mundiais[editar | editar
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Após a década de 1910, os estudos de Weber na área da
sociologia da religião foram ampliados e ele passou a aprofundar seu
conhecimento das religiões de caráter universal. Ao contrário de Durkheim, que
partiu das religiões primitivas (totemismo), Weber dedica-se à análise do
confucionismo e do taoismo, do hinduísmo e do budismo, do islamismo e do
judaísmo, ou seja, dos grandes sistemas religiosos da humanidade. Conforme ele
esclarece no Prólogo (Vorbemerkung) escrito para introduzir, em termos globais,
seus Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião, seu objetivo primordial
consiste em entender os fenômenos centrais do racionalismo ocidental, como a
ciência, a técnica, a universidade, a contabilidade, o direito, a gestão
racional das empresas, a música, o Estado Burocrático e, em especial, o
capitalismo moderno. Conforme explicou sua esposa Marinne Weber, a descoberta
da especificidade do racionalismo moderno foi a grande inovação sociológica de
Weber e ele procurou desvendar suas origens e características, destacando o
papel da religião neste processo.
Introdução O estudo de Weber dedicado às religiões
universais possui um escrito preliminar de caráter metodológico, no qual ele
explica que, diferente do que fez na pesquisa sobre o protestantismo (em que
contemplou apenas um lado da relação causal entre ideias e interesses), nestes
estudos ele mostraria a vinculação existente entre fatores materiais e fatores
ideais nos processos sociais. Por isso, ao analisar os grandes sistemas
religiosos e suas diferentes teodiceias, ele levaria em conta também os
interesses e o papel de suas principais camadas portadoras, sejam elas
populares (camadas urbanas, rurais, etc.), sejam elites políticas (burocracias),
religiosas (sacerdotes) ou mesmo guerreiros.
Confucionismo e Taoismo O primeiro grande sistema analisado
por Weber é a milenar civilização chinesa. Ele revisa os pressupostos
econômicos e político do mundo da China, o papel do imperador e das províncias
e, em especial, a função dos mandarins (burocratas), o que introduz um caráter
ritualista e tradicional no confucionismo, voltado para a culto dos
antepassados familiares e do imperador: o universo é entendido como uma ordem
eterna - Tao - que não pode ser contestada e ao qual o indivíduo se adapta. Na
China desenvolveu-se uma tendência mística chamada taoismo, cujo fundador é
Lao-Tsé, mas que foi tragada pela poderosa força da magia, razão pela qual a
religião chinesa ficou imersa em um jardim mágico. Desta forma, ele não
desenvolveu um potencial de racionalização prática das condutas.
Consideração Intermediária Após analisar a religião chinesa,
Weber passa ao exame das religiões de salvação, nas quais existe uma relação de
tensão com o mundo: daí a necessidade de um texto intermediário que explique as
diferenças entre o misticismo (predominante do mundo oriental) e o ascetismo
(predominante no mundo ocidental. Neste texto ele também examina as tensões
entre a ordem religiosa (regida por normas) e as ordens sociais do mundo
moderno que são regidas por uma racionalidade formal e que, portanto, possuem
sua legalidade própria. As esferas analisadas por Weber são a economia, a
política, a arte, o erotismo e a ciência.
Hinduísmo e Budismo O sistema de castas vigente na Índia
demonstra que também se trata de uma religião - chamada de hinduísmo - com
fortes elementos tradicionais. As castas criam uma ordem hierárquica, no topo
da qual estão os sacerdotes brâmanes, seguidos pelos guerreiros, depois os comerciantes
e agricultores e, por fim, os demais trabalhadores. O intercâmbio entre os
grupos sociais não é permitido e a única forma de evoluir na escala social é a
roda das encarnações. O caráter sagrado das castas indianas foi rompido pela
pregação de Buda. O Budismo conservou a ideia de reencarnação, mas ela se torna
completamente individual e voltada para a dissolução do eu. Tal crença
difundiu-se por todo Oriente e constitui a grande matriz dos sistemas
religiosos orientais, que possuem um componente acentuadamente místico.
O Judaísmo Antigo O grande processo de desencantamento
religioso do mundo, ou seja, a eliminação da magia como meio de salvação, tem
aqui o seu ponto de partida. O judaísmo é uma religião pária, ou seja, há um
vínculo exclusivo entre o povo eleito e seu Deus Javé, isolando a religião
judaica do contexto social mais amplo. A elaboração de uma lei sacerdotal,
sistematizada pelos levitas e a pregação dos profetas, exigindo o cumprimento
das normas, abriu caminho para uma religião de caráter prático e ético,
expurgando o papel das crenças mágicas no sistema religioso. O judaísmo foi a
fonte do racionalismo prático da dominação do mundo que permeia o mundo
ocidental e suas diferentes instituições sociais.
Comparando estas diferentes religiões, Weber mostrou que
existe diferentes formas de racionalismo. Assim, enquanto na China predomina um
racionalismo prático que acomodação ao mundo, na Índia, ao contrário, temos um
racionalismo teórico de fuga do mundo. Já o Ocidente, começando no Judaísmo Antigo
e chegando no protestantismo ascético desenvolveu uma forma prática de
racionalismo da dominação do mundo. Dessa forma Weber nos oferece uma descrição
das diferentes formas que os processos de racionalização adquire no contexto de
diferentes culturas.
Além disso, ao comparar diferentes civilizações, Max Weber
pode ser considerado o precursor de uma sociologia que busca ir além do
eurocentrismo. Apesar de seu trabalho estar centrado no horizonte do Ocidente
Moderno, ele procura defini-lo a partir da comparação com outros modelos de
cultura e de sociedade. Sua análise da modernidade, adota uma perspectiva
cosmopolita. Esta sociologia comparada das civilizações vem sendo relida por
pensadores preocupados em pensar o mundo globalizado, tais como Shmuel Eisenstadte
Thomas Schwinn, entre outros.
Economia e Sociedade[editar | editar código-fonte]
Em 1913, Weber publicou um escrito intitulado "Sobre
algumas categorias da sociologia compreensiva", primeiro esboço de seu
método sociológico. Ele continuou a trabalhar sua visão de sociologia durante
os próximos anos em escrito encomendado para uma ampla coleção de textos
econômicos e que, por esta razão, recebeu o nome de "Economia e
Sociedade". Weber trabalhou neste volume até o final de sua vida, mas ele
só foi publicado postumamente por sua esposa, Marianne Weber. A versão mais
conhecida deste volume póstumo e a quarta edição, organizada por Johannes
Winckelmann, em 1956 .
No primeiro capítulo desta obra, aparece como conceito
fundante da teoria sociológica de Weber - a categoria ação - , considerado por
ele como o objeto da sociologia. Por essa razão sua teoria inaugura o chamado
"individualismo metodológico", postura que entende que as formas
coletivas de vida (ou mesmo a sociedade como totalidade social) deve ser
explicada a partir de suas bases individuais, opondo-se, assim, ao
"holismo metodológico".
A ação é um comportamento humano ao qual os indivíduos
vinculam um significado subjetivo e a ação é social quando está relacionada com
outro indivíduo. A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de
partida a distinção entre quatro tipos de ação social:
A ação instrumental com relação a um objetivo é determinada
por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de
outros homens e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance
de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta que
tem um fim especifico, por exemplo: o engenheiro que constrói uma ponte.
A ação racional com relação a um valor é aquela definida
pela crença consciente no valor - interpretável como ético, estético, religioso
ou qualquer outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age
racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior,
mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença consciente no
valor, por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio.
A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou
humor do sujeito, é definida por uma reação emocional do ator em determinadas
circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema de valor, por
exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se comportar mal.
A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes,
crenças transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o
ator não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma
emoção, obedece a reflexos adquiridos pela prática.
Nos parágrafos seguintes Weber desenvolve ainda os conceitos
de "relação social" e de "ordem social".
Na ótica weberiana, a sociologia é essencialmente
hermenêutica, ou seja, ela está em busca do significado e dos motivos últimos
que os próprios indivíduos atribuem as suas ações: é neste sentido que a
sociologia é sempre "compreensiva" (verstehen). O principal objetivo
de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá a sua conduta e perceber
assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais como
propunha Durkheim. A análise weberiana propõe que se deve compreender,
interpretar e explicar respectivamente, o significado, a organização e o
sentido, bem como evidenciar regularidade das condutas. Cabe a sociologia
entender como acontecem e se estabilizam as relações sociais, os grupos
organizados e as estruturas coletivas da vida social.
Com este pensamento, não possuía a ideia de negar a
existência ou a importância dos fenômenos sociais globais, dando importância à
necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam
essas situações sociais. Ou seja, a sua ideia é que a sociedade como totalidade
social é o resultado das formas de relação entre seus sujeitos constituintes.
Tomando como ponto de partida da compreensão da vida social o papel do sujeito,
a teoria de Max Weber é denominada individualismo metodológico.
1. Sociologia Econômica Durante a maior parte de sua vida
acadêmica, Max Weber foi docente de disciplinas da área econômica. Aliás, seu
último livro, um conjunto de notas de aula publicados por seus alunos, chama-se
justamente História Geral da Economia. Desta forma, não é surpresa que Weber
elabore uma sofisticada abordagem sociológica da vida econômica. Por esta
razão, há até teóricos que defendem que, em última instância, toda obra de
Weber não passa de uma teoria econômica, qual seja, uma visão sócio-histórica
da vida aquisitiva.
Na sua primeira fase, seguindo a tradição marxista, Weber
tendia a ver o capitalismo como um fenômeno especificamente moderno. Já em sua
" Ética Protestante" (de 1904), apesar de colocar em relevo os
fatores culturais da gênese da conduta capitalista, era esta visão que
predominava. Mas, nas décadas seguintes, ele romperá com estas noções. Em primeiro
lugar, ele insere o capitalismo (na sua fase "moderna") em um amplo
processo de racionalização da cultura e da sociedade. Ou seja, enquanto
fenômeno social, o capitalismo é uma das expressões da vida racionalizada da
modernidade Ocidental e é similar, em sua forma racional, ao campo da política,
do direito, da ciência, etc. Outra mudança importante é que Weber rompe com a
definição marxista de que o capitalismo é um fenômeno exclusivo da era moderna:
daí a expressão capitalismo "moderno". Para Weber, o capitalismo é um
fenômeno que atravessa a história, pois a busca do lucro já pode ser localizada
nas sociedades primitivas e antigas, nas grandes civilizações e mesmo nas
sociedade não-ocidentais. O núcleo estruturante da atividade capitalista é a ''empresa'',
pois a separação da esfera individual da esfera impessoal da produção permite a
racionalização da organização do trabalho e mesmo das atividades de gestão
destas organizações.
Com base nestas premissas, Weber construiu diferentes tipos
ideais de capitalismo, como a capitalismo aventureiro, o capitalismo de Estado,
o capitalismo mercantil, capitalismo comercial, etc.
As principais análises de Weber sobre o campo econômico
podem ser encontradas no segundo capítulo de Economia e Sociedade, tópico em
que ele discute a ordem social econômica. Ali ele destaca que o processo de
racionalização da atividade econômica também envolve a passagem de uma
racionalidade material - na qual a vida econômica está submetida a valores de
ordem ética ou política - para uma racionalidade formal, ou seja, na qual a
lógica impessoal das atividades econômicas e e lucrativas se torna
predominante.
Por estas razões, Max Weber é considerado, atualmente, um
dos precursores da sociologia econômica, conjunto de autores que se recusa a
entender a vida econômica como relacionada apenas com o mercado, concebido de
forma abstrata, separado de suas condições históricas, culturais e sociais.
2. Sociologia Política Max Weber desenvolveu um importante
trabalho de sociologia política através da sua teoria dos tipos de dominação .
Dominação é a possibilidade de um determinado grupo se
submeter a um determinado mandato. Trata-se, portanto, de um tipo de relação
social fundada na autoridade de um indivíduo sobre outros. Isso pode acontecer por
motivos diversos, como as leis, admiração, costumes e tradição. Weber define
três tipos de dominação que se distinguem pelo seu caráter (pessoal ou
impessoal) e, principalmente, pela diferença nos fundamentos da legitimidade.
São elas: legal, tradicional e carismática.
Dominação legal: a obediência está fundamentada na vigência
e aceitação da validade intrínseca das normas e seu quadro administrativo é
mais bem representado pela burocracia. A ideia principal da dominação legal é
que deve existir um estatuto que pode ou criar ou modificar normas, desde que
esse processo seja legal e de forma previamente estabelecido. Nessa forma de
dominação, o dominado obedece à regra, e não à pessoa em si, independente do
pessoal, ele obedece ao dominante que possui tal autoridade devido a uma regra
que lhe deu legitimidade para ocupar este posto, ou seja, ele só pode exercer a
dominação dentro dos limites pré-estabelecidos. Assim o poder é totalmente
impessoal, onde se obedece à regra estatuída e não à administração pessoal.
Como exemplo do uso da dominação legal podemos citar o Estado Moderno, o
município, uma empresa capitalista privada e qualquer outra organização em que
haja uma hierarquia organizada e regulamentada. A forma mais pura de dominação
legal é a burocracia .
Dominação tradicional: Se dá pela crença na santidade de
quem dá a ordem e de suas ordenações, sua ordem mais pura se dá pela autoridade
patriarcal onde o senhor ordena e os súditos obedecem e na forma administrativa
isso se dá pela forma dos servidores. O ordenamento é fixado pela tradição e
sua violação seria um afronto à legitimidade da autoridade. Os servidores são
totalmente dependentes do senhor e ganham seus cargos seja por privilégios ou
concessões feitas pelo senhor, não há um estatuto e o senhor pode agir com
livre arbítrio.
Dominação carismática: nesta forma de dominação os dominados
obedecem a um senhor em virtude do seu carisma ou seja, das qualidades
excepcionais que lhe conferem especial poder de mando. A palavra carisma é de
inspiração religiosa e, no contexto cristão, lembra os dons conferidos pelo
Espírito Santo aos cristãos. A palavra foi reinterpretada em sentido
sociológico como dons e carismas do próprio indivíduo e, foi nesta forma que
Weber a adotou. Weber considerou o carisma uma força revolucionária na
história, pois ele tinha o poder de romper as formas normais de exercício do
poder. Por outro lado, a confiança dos dominados no carisma do líder é volúvel
e esta forma de dominação tende para a via tradicional ou legal.
A tipologia weberiana das formas de poder político diferente
claramente da tradição clássica, orientada pela discussão da teoria das formas
de governo, oriunda do mundo antigo (Platão e Aristóteles). Filiado à tradição
realista de pensamento, Weber também rejeita os pressupostos normativos e
éticos da teoria do poder e procura descrevê-lo em suas formas efetivas de
exercício. Ao demonstrar que o exercício do poder envolve a necessidade de
legitimação da ordem política e, ao mesmo tempo, sua institucionalização por meio
de um quadro administrativo, Weber apresentou os fundamentos básicos da
sociologia política da era contemporânea.
Além de uma rigorosa e sistemática sociologia política -
alicerçada em seus tipos de dominação - Max Weber foi um dos mais argutos
analistas da política alemã, que analisou durante o Segundo Império Alemão e
durante os anos iniciais da República de Weimar. Crítico da política de
Bismarck, líder que, ao monopolizar o poder, deixou a nação sem qualquer nível
de sofisticação política, Weber sempre apontou a necessidade de reconstrução da
liderança política. No escrito O Estado Nacional e a Política Econômica, de
1895, já mostrava como as diferentes classes sociais não se mostravam aptar a
dirigir a nação, seja pela sua decadência social (caso dos Junkers), seja pela
sua imaturidade política (caso da burguesia e do proletariado) .
3. Sociologia da estratificação social Estratificação social
é a área da sociologia que se ocupa da pesquisa sobre a posição dos indivíduos
na sociedade e explicitação dos mecanismos que geram as distinções sociais
entre os indivíduos. Ao contrário de Marx, que explicava estas diferenças
apenas com base em fatores econômicos, Weber mostrou que as hierarquias e
distinções sociais obedecem à lógicas diferentes na esfera econômica, social e
política. Sob o aspecto econômico as classes sociais são diferenciadas conforme
as chances de oportunidades de vida, escalonando os indivíduos em grupos
positiva ou negativamente privilegiados. Do ponto de vista social, indivíduos e
agrupamentos sociais são valorizados conforme atributos de valor, dando origens
a diversos tipos de grupos de status. Diferente também é a lógica do poder, em
que os indivíduos agregam-se em diferentes partidos políticos. A análise
weberiana demonstra que existem diferentes mecanismos sociais de distribuição
dos bens sociais, como a riqueza (classe), a honra ou prestígio social (grupos
de status) e o poder (partidos) e que cada um deles cria diferentes tipos de
ordenamento, hierarquização e diferenciação social.
4. Sociologia do Direito Jurista de formação, a análise da
esfera jurídica não ficou de fora das preocupações de Max Weber . Ele dedicou
um amplo capítulo de Economia e Sociedade a este tema. O pano de fundo de toda
sua reflexão sobre a esfera das normas jurídicas é a tese da racionalização da
vida social, da qual o próprio direito é uma das expressões. Ao compreender
historicamente a evolução do direito, Weber destaca o crescente processo de
racionalização que lhe é inerente.
A racionalização do direito pode ser compreendida a partir
de duas variáveis: seu caráter material ou formal ou seu caráter racional e
irracional. São racionais todas as formas de legislação que seguem padrões
fixos, ao contrário do caráter aleatório dos métodos irracionais. Por outro
lado, o conteúdo do direito pode ser determinado por valores concretos,
especialmente de caráter ético, ou obedecer a critérios de ordem interna,
ligados a sistemática e ao processo jurídico em si mesmo, ou seja, a sua forma.
A apreciação weberiana do setor jurídico da vida social não
se dedica apenas a entender esta esfera de forma isolada. O direito possui uma
ligação direta tanto com a ordem política quanto com a ordem econômica. A
evolução do direito formal é um aspecto essencial do progressivo processo de
burocratização do Estado, bem como a estabilidade das normas jurídicas foi fundamental
para a consolidação de uma economia de mercado, pois esta requer uma ordem de
obrigações previsível. Direito, economia e política são ordens sociais de vida
que estão conectados e entrelaçados de forma direta .
Como teórico da evolução sócio-histórica do direito, Weber é
um dos precursores do chamado direito positivista, pois ele concebia o direito
formal como a forma mais avançada historicamente do sistema jurídico. Desta
forma, Max Weber está na raiz de importantes teóricos como o próprio Hans Kelsen,
por exemplo, considerado o maior teórico do positivismo jurídico.
Neutralidade axiológica[editar | editar código-fonte]
Nos anos finais de sua carreira, uma nova discussão dividiu
os membros da intelectualidade alemã no campo das ciências humanas: o papel dos
valores na atividade científica. Para os partidários mais antigos da Escola
Alemã de Economia, a ciência social deveria ser uma atividade orientada para a
defesa de pontos de vista fundamentados em normas, capazes de orientar a
política estatal e governamental. Para os membros mais jovens da escola
econômica alemã, ao contrário, a ciência não poderia ser a base para a escolha
de valores que, em última instância, são escolha dos próprios indivíduos.
Max Weber era partidário desta segunda posição e a defendeu
no escrito intitulado O sentido da neutralidade axiológica nas ciências
políticas e sociais. Embora a atividade científica esteja intrinsecamente
ligada ao mundo dos valores - pois toda pesquisa nasce das escolhas pessoais do
pesquisador - a autoridade da ciência não pode ser invocada para impor valores
aos indivíduos. Na visão weberiana, a modernidade está atravessada por um
conflito valorativo irredutível - a guerra dos deuses e o politeísmo de valores
-. Seguindo a orientação neo-kantiana, Weber isola do Sein do Sollen - ou seja,
diferencia a dimensão do ser da dimensão do dever ser - e entende que teoria e
prática são domínios separados. Na pesquisa social, o cientista deve isolar
seus pontos de vista subjetivos - seus juízos de valor - e orientar-se pela
exposição dos fatos, qual seja, deve expor juízos de fato. A ciência social
deve estar "livre de juízos de valores" (Wertfreiheit), termo alemão
que costuma ser traduzido por "neutralidade axiológica" ou de
valores, ainda que não seja esta sua tradução exata.
Separar pensamento e ação, contudo, não implica sacrificar o
caráter crítico da atividade científica. Ao cientista social cabe mostrar a
íntima vinculação de meios e fins, mostrando como os fins determinam a escolha
dos meios e, no sentido inverso, certos meios assentam-se em juízos
valorativos. Sem aderir a uma posição positivista (que sobre determina a
dimensão da teoria) ou a uma posição marxista (que sobre determina a dimensão
da prática), a ciência social na ótica weberiana respeita a autonomia da
dimensão do saber e do fazer sem perder o caráter crítico do conhecimento
científico-social.
A ciência como vocação[editar | editar código-fonte]
As análises de Weber também contemplam o papel do
conhecimento científico no mundo moderno. Na famosa conferência A ciência como
vocação , pronunciada em 7 de novembro de 1917, em Munique, o pensador entendeu
que a ciência era um dos fatores fundamentais do processo de desencantamento do
mundo.
Ele comparou a situação da universidade alemã com a
realidade dos Estados Unidos e advertiu seus ouvintes de que no futuro haveria
um processo de americanização da vida universitária, que seria cada vez mais
parecida com empresas estatais: professores assalariados e separação entre o
produtor e os meios de produção. De qualquer forma, a vida do cientista e suas
chances de promoção profissional ainda são bastante determinadas pelo papel do
acaso e da contingência. Ao mesmo tempo, os acadêmicos acabam sendo
pressionados para conciliar a difícil vocação para a pesquisa e para o ensino,
o que abre espaço para demagogos e diletantes.
Do ponto de vista pessoal, ele ressaltou que a vocação
científica exige dedicação: quem não se especializa em alguma área jamais pode
almejar sucesso. Contudo, mais do que dedicação, a vocação para a ciência
também exige paixão (dedicação à causa) e, além disso, inspiração para fazer
uma obra relevante. Somente quem vive voltado para a ciência pode ser chamado
uma personalidade.
Do ponto de vista sociológico, Weber mostrou que a ciência
faz parte de um processo histórico geral de racionalização e intelectualização
da vida. Através da visão científica, a realidade é expurgada de seus elementos
mágicos e o sentido último da realidade é retirado do mundo, ficando a cargo
das religiões ou da própria consciência do indivíduo. Muitos autores apontam
neste escrito os ecos da tese da morte de Deus, apresentada pelo filósofo
Friedrich Nietzsche, embora a maioria dos comentadores reconheça que sua fonte
de inspiração é a divisão das esferas de valores proposta por Kant. Para Weber,
a modernidade achava-se dilacerada por um conflito de valores - na linguagem de
Weber, pela guerra dos deuses - e a escolha do sentido último da vida era uma
responsabilidade pessoal que não poderia ser credita à ciência. Ao saber
científico cabe a explicação dos mecanismos de funcionamento do mundo, e não a
determinação do ser verdadeiro, da verdadeira arte, da verdadeira natureza, do
verdadeiro Deus ou mesmo da verdadeira felicidade.
Mas, apesar de retirar o sentido último do mundo, Weber
destacou que a ciência contribui com a vida do indivíduo, ao oferecer-lhe meios
de domínio prático da realidade, a capacidade de avaliar meios e fins e, acima
de tudo, clareza: ou seja, meios para pensar de forma lógica, sistemática e
clara.
O destino de nosso tempo é marcado pela intelectualização e
pelo desencantamento do mundo. Diante desta realidade, cabe ao indivíduo
escolher se quer permanecer imerso na esfera religiosa (o que exige o
sacrifício do intelecto) ou se prefere arcar com as consequências de uma visão
científica do mundo, na qual não existe qualquer sentido último para a vida, o
mundo e o indivíduo. No mundo desencantando, o indivíduo deve dedicar-se às
tarefas do dia e assumir suas responsabilidades diante da vida: esta é a única
forma de dar sentido à própria existência.
Seguidores[editar | editar código-fonte]
Dentre os principais teóricos influenciados pelo pensamento
weberiano, podemos citar:
Arnold
Gehlen,Max Scheler,Karl Jaspers,Leopold von Wiese,Karl Mannheim,Alfred Schütz,Ervin
Goffman,Norbert Elias,Ernest Gellner,David Landes,Anthony Giddens
Nos Estados Unidos, algumas obras de Weber foram traduzidas
já na década de 30, pelo eminente sociólogo Talcott Parsons. Este pensador
também incorporou algumas ideias weberianas em sua "teoria voluntarista da
ação" (desenvolvida em 1937). Nas décadas posteriores, contudo, a leitura
parsoniana de Weber foi sendo fortemente criticada, com destaque para a
coletânea de textos existentes em From Max Weber (1946), organizada por Charles
Wright Mills e Hans Gerth. Na França, o pensamento weberiano foi difundido por
Raymond Aron e Julien Freund e, mais recentemente, uma estudiosa destacada é
Catherine Colliot-Thélene.Na Alemanha, Jürgen Habermas concede a Weber um papel
fundamental em sua "Teoria da ação comunicativa", descrevendo a
sociologia weberiana da racionalização. Outro comentador especializado e com
muitas obras dedicadas ao tema é Wolfgang Schluchter.
No Brasil, além de autores clássicos como Sérgio Buarque de
Holanda e Raymundo Faoro, o pensamento weberiano é descrito por estudiosos como
Gabriel Cohn, Maurício Tragtenberg, José Guilherme Merquior e, atualmente,
Antônio Flávio Pierucci e Jessé Souza.
Cronologia
21 de Abril de 1864 - Max Weber nasce em Erfurt. Os pais são
o jurista e mais tarde deputado do parlamento imperial (Reichstag) pelo partido
nacional-liberal, Max Weber e Helene (nascida na família Fallenstein)
1882 - 1886 - estudos de Direito, Economia Nacional,
Filosofia e História
1889 - doutoramento em Direito
1892 - habilitação em direito canônico romano e direito
comercial (em Berlim)
1893 - obteve uma posição temporária na Universidade de
Berlim. Casamento com Marianne Schnitger (1870 - 1954), que será mais tarde
ativista pelos direitos da mulher e socióloga
1894 - assume a posição de professor de Economia na
Universidade de Freiburg
1897 - professor de Economia Nacional na Universidade de
Heidelberg
1898 - em virtude de uma crise familiar, Weber sofre um
colapso nervoso e abandona o trabalho acadêmico, sendo internado periodicamente
até 1903
1904 - regressa à atividade profissional. Atividade
redatorial no jornal "Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik",
que se tornou o jornal líder da ciência social alemã. Weber fez neste ano uma
viagem aos Estados Unidos, onde deu aulas
1907 - recebe uma herança que o liberta de quaisquer
preocupações financeiras
1909 - é cofundador da sociedade Alemã de Sociologia
1914 - 1918 - Primeira guerra mundial, em 1914, Weber acolhe
entusiasticamente o início da Guerra (um nacionalismo militarista muito comum
na altura, partilhado entre outros por Thomas Mann). Inscreveu-se como
voluntário no exército (Reichswehr). Em 1915 mudou de ideias, tornando-se um
pacifista
1917 - nos Colóquios de Lauenstein apela à continuação da
guerra, ao mesmo tempo defendendo o retorno ao parlamentarismo
1918 - cofundador do liberal Partido Democrático Alemão
(Deutsch-Demokratische Partei; o DDP).
1919 - convocado como conselheiro para a delegação alemã na
conferência do Tratado de Versalhes. Foi também nomeado professor de economia
nacional na Universidade de Munique
14 de Junho de 1920 - morre em Munique vítima de uma
pneumonia.
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O Wikiquote possui citações de ou sobre: Max Weber
Arnold Gehlen
Adolf von Harnack
Alfred Weber, irmão de Max Weber
Georg
Simmel
Hermann
Lübbe
Theodor
Mommsen
Werner
Sombart
Wilhelm Windelband
A ética protestante e o espírito do capitalismo
Escola histórica da Economia
Ação social
Tipo ideal
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
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Ligações externas[editar | editar código-fonte]
Biografia extensa (em inglês)
Biografia na Cultura Brasil (em português)
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Os Economistas, Textos selecionados, M Weber
A ciencia como vocaçao, Max Weber
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber
Max Weber e Hans Kelsen: a sociologia e a dogmática
jurídicas, Daniel Barile da Silveira, Rev. Sociol. Polit.
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