domingo, 16 de agosto de 2015

Episódio magnífico da vida de Tchekhov, narrado no livro Três Russos, de Máximo Górki:


“Um dia, recebeu a visita de três senhoras suntuosamente vestidas. Depois de terem enchido a sala com o ruído de suas saias de seda e com o odor de perfumes capitosos, sentaram-se com cerimônia em frente ao dono da casa, e, afetando grande interesse por assuntos políticos, passaram a fazer ‘perguntas inteligentes’:

- Antonio Pavlovitch! Por qual modo terminará a guerra?

Antonio Pavlovitch tossiu ligeiramente, refletiu e respondeu com doçura, em um tom sério e afável:
- Provavelmente pela paz ...

- Naturalmente!... Mas quem será o vencedor? Os gregos ou os turcos?

- Parece-me que serão vencedores os mais fortes.

- E na sua opinião, quais são os mais fortes? – perguntavam com insistência as senhoras.

- Os mais bem nutridos e os mais instruídos.

- Oh, como é espirituoso! – exclamou uma das visitantes.

- E de quem gosta mais, dos gregos ou dos turcos? – perguntou uma das outras senhoras.

Antonio Pavlovitch mirou-a gentilmente e respondeu com um amável e doce sorriso:

- Gosto de torta de frutas ... a senhora gosta?

- Muito! – exclamou vivamente a dama.

- Vem um perfume tão bom dessas tortas! – confirmou enfaticamente uma outra das visitantes.

E todas três se puseram a falar com animação, dando provas, nessa questão de torta de frutas, de uma admirável erudição e de um perfeito conhecimento do assunto. Estavam evidentemente encantadas por não terem mais de puxar pela inteligência e de fingir interesse por turcos e gregos, nos quais, até antes do encontro com Tchekhov, sem dúvida nunca haviam pensado.

E ao partirem, prometeram com alegria a Antonio Pavlovitch:

- Nós lhe mandaremos uma torta de frutas.

- Linda conversação!.. – disse eu, quando partiram.

Antonio Pavlovitch riu docemente e acrescentou:


- É necessário que cada um fale a sua língua...”.

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