Daniel Jorge Habib
Bom dia amigos,
venho fazer um relato, um breve relato, semelhante ao
desabafo de um filósofo. Exercício da minha profissão.
No início de 2010 comecei a perceber umas movimentações
estranhas no rearranjo geopolítico global, também em relação ao Brasil. Me
perguntava por que certas coisas aparentemente desconectadas estavam
acontecendo e dificilmente encontrava respostas em causalidade linear,
felizmente disponho de algumas técnicas de diagnóstico de causalidade sistêmica
recursiva e em rede. Com o passar dos meses uma espécie de "sombra"
foi aparecendo e em meados do ano percebi que era algo próximo a um roteiro
estruturado para nova conformação política do/no território brasileiro.
Três razões principais me levaram a essa conclusão:
1- o cenário global de mudanças climáticas combinado ao
fluxo massivo de êxodo rural e concentração urbana, que vai expor a quase
totalidade dos territórios brasileiros exploráveis para energia solar, além de
água, minérios, biodiversidade e terras agricultáveis, com condição muito
superior à daqueles países onde uma nova pequena era glacial irá tornar a vida
urbana impraticável nas próximas décadas;
2- a oferta crescente de mão de obra tecnicamente
qualificada mas filosófica, sociológica, antropológica, política, econômica e
cientificamente emburrecida no país, condição extremamente favorável para
repetidores de regras não pensadas e, claro, não questionadas;
3- o violento retrocesso percebido nos últimos anos nos atos
administrativos entre os três poderes e nas três esferas, quanto ao respeito
aos DHESCA (Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais), que
abrem caminho para justificar uma coalizão multisetorial e multilateral contra
o governo e subgovernos brasileiros, apesar do reconhecimento de avanços em
outras áreas.
Percebido esse cenário, pude fazer um exercício
retrospectivo (uma espécie de regressão de fatos) que me levou até o processo
que desmanchou o Programa Fome Zero, primeiro projeto nacional que se tentou
levar a cabo desde o descobrimento, mas foi soterrado pelo próprio governo em
acordos intestinos.
Passo a passo desde 2004 até 2010 notei que havia, de fato,
uma linha lógica (de causalidade sistêmica, recursiva e em rede) com aquelas
bases que mencionei, mas ainda não estava claro como se daria o processo de
nova conformação política para o território brasileiro. Só nos primeiros meses
de 2011 consegui concatenar os fatos e caminhos, na percepção de que haveria
algo próximo ao seguinte roteiro:
1- a criação de um sentimento popular de desgosto e desgaste
quanto a toda forma de governabilidade, devido principalmente à frustração pela
facilidade de acesso ao crédito bancário sem base microeconômica para suprir as
dívidas individuais dos menores estratos de renda (efeito da crise econômica =
prejuízo das pessoas, lucro recorde dos bancos);
2- a inauguração de um movimento mundial de reconhecimento
das violações de direitos humanos no Brasil, principalmente direitos indígenas
(como foi e continua sendo o holocausto indígena no Brasil, que ganhou
particular atenção nas redes sociais de todo o mundo com os terríveis episódios
contra os Kaiowa no Mato Grosso do Sul);
3- a eclosão de um tipo de movimentação social engendrada
com o perfeito fim de construir um sentimento popular de "o gigante
acordou" (as marchas de 2013);
4- a descaracterização pública e ridicularização, pela
mídia, desse sentimento de "o gigante acordou", fazendo com que se
transformasse em revolta contida, fomentando a inflamação que antecede a fúria,
aumentada ainda pela sensação de impotência particular e incompetência nacional
(como por exemplo, o "evento 7x1");
5- o início da declaração de um golpe branco, onde o
reconhecimento da autoridade governamental vai sendo minado aos poucos desde
dentro da própria estrutura de governo (a luta fictícia contra o golpe
comunista bolivariano);
6- a criação do poder gerador de uma guerra civil, uma luta
fratricida, que é a cisão NÓS X ELES, de caráter político (esquerda X direita),
religioso (Povo de Deus X Impuros), econômico (pobres x ricos), não culminada
nas eleições gerais de 2014, mas em franca ascensão;
7- a expectativa popular de intervenção interna, apoiada e
supervisionada por intervenções externas (pedidos públicos de intervenção
militar);
8- a consolidação da transferência não constitucional de
autoridade sobre o governo, seguida de apoio popular imediato, mas que logo
será frustrado (impeachment);
9- o agravamento das condições que geraram a insatisfação
popular, culminando no ponto de fúria (possível risco de guerra civil interna -
MOMENTO ATUAL);
10- um movimento de coalizão multisetorial/multilateral para
intervir politicamente e militarmente junto à população, tomando controle sobre
o território, que será negado e rechaçado pela população, agora inflamada;
11- o prologamento da situação de instabilidade política
interna, que por justificativa econômica validaria a intervenção multilateral;
12- o esfacelamento da idéia de "território
contíguo", em pacto semelhante à partilha da África, constituindo
finalmente a nova conformação geopolítica face às mudanças climáticas.
Compartilho essa percepção com vocês, na expectativa de que
junto comigo possamos refletir sobre o futuro próximo e distante do nosso país,
e também do próprio momento atual da civilização.
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