sábado, 18 de julho de 2015

Sobre a Calúnia

 “A calúnia é um ventinho, um arzinho muito gentil que, insensível e sutil, ligeira e docemente, começa a sussurrar. Pouco a pouco, no assoalho rastejando sibilante, vai escorrendo, vai zumbindo nos ouvidos das pessoas, entra com destreza; E as cabeças e os cérebros atordoa e faz inchar. Boca afora vai saindo, cacareja e vai crescendo: ganha força pouco a pouco, corre canto a canto, qual trovão, e temporal que, no seio da floresta, assobia resmungando e faz de horror gelar. Afinal, derrama-se, volátil, esparramada e duplicada, em perfeita explosão, como a de um canhão, em terremoto, em vendaval, num tumulto geral que faz o ar chicotear. E o pobre caluniado, ofendido, repisado, em público flagelado, por bom motivo, sucumbe.”

(Fala de D. Basilio, em "O barbeiro de Sevilha")

Nenhum comentário: