Crítica típica de um espírito ocidentalista e materialista,
incapaz de penetrar na essência metafísica e profundamente religiosa da obra de
Dostoievski. Já o li e quase vomitei o tempo todo. Mikhailovski nunca
compreendeu a Ortodoxia, nunca buscou compreender a Ortodoxia e a ligação que
ela, na Rússia, mantinha com o povo, com o destino da nação, com um
entendimento sobrenatural da caminhada do povo russo, do caráter de profecia da
imersão de Dostô na espiritualidade do Monte Athos, no hesicasmo, na busca pela
transfiguração do homem.
Homens como Mikhailovski idolatram a
imanência, sendo que a base da filosofia religiosa de Dostoievski é uma só: não
há salvação ou esperança na imanência. Não há esperança debaixo do céu nem
verdade. Tudo se transcende a si mesmo no Espírito e só no Cristo tem seu
fundamento, validade, onticidade.
Foi assim que Dostoievski me converteu à Ortodoxia, sem
nenhuma pregação, com o dissecamento de almas atormentadas pelo fogo do
encontro, do diálogo no infinito, onde a essência divina do homem se manifesta,
ali, no inferno, no abismo.
A única crueldade no escritor está na forma impiedosa em
como retrata o sofrimento humano EXATAMENTE na sua intenção artística e
ideológica de apresentar tal abismo na sua crueza, para demonstrar a completa
vacuidade da imanência, a total insuficiência dos saberes, ciência,
civilização, valores morais do homem pretensamente livre diante da terrível
liberdade incriada que a criatura 'jogada no abismo da existência' (veja
Heidegger aqui) compartilha com o Deus que não só a cria e salva, como sofre
juntamente com ela.
Não é uma crueldade desnecessária,
niilista, é um recurso essencial, estético, para que sua visão artística
pudesse ser explorada na sua máxima clareza e intensidade. A visão: o homem
jogado necessita de Deus, da transcendência, mesmo que nunca a encontre
(Svidrigailov, Stavróguin, Smierdiakov).
Caio Alves Cordeiro
Caio Alves Cordeiro
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