sábado, 18 de julho de 2015

filosofia religiosa de Dostoievski

Crítica típica de um espírito ocidentalista e materialista, incapaz de penetrar na essência metafísica e profundamente religiosa da obra de Dostoievski. Já o li e quase vomitei o tempo todo. Mikhailovski nunca compreendeu a Ortodoxia, nunca buscou compreender a Ortodoxia e a ligação que ela, na Rússia, mantinha com o povo, com o destino da nação, com um entendimento sobrenatural da caminhada do povo russo, do caráter de profecia da imersão de Dostô na espiritualidade do Monte Athos, no hesicasmo, na busca pela transfiguração do homem.

Homens como Mikhailovski idolatram a imanência, sendo que a base da filosofia religiosa de Dostoievski é uma só: não há salvação ou esperança na imanência. Não há esperança debaixo do céu nem verdade. Tudo se transcende a si mesmo no Espírito e só no Cristo tem seu fundamento, validade, onticidade.
Foi assim que Dostoievski me converteu à Ortodoxia, sem nenhuma pregação, com o dissecamento de almas atormentadas pelo fogo do encontro, do diálogo no infinito, onde a essência divina do homem se manifesta, ali, no inferno, no abismo.
A única crueldade no escritor está na forma impiedosa em como retrata o sofrimento humano EXATAMENTE na sua intenção artística e ideológica de apresentar tal abismo na sua crueza, para demonstrar a completa vacuidade da imanência, a total insuficiência dos saberes, ciência, civilização, valores morais do homem pretensamente livre diante da terrível liberdade incriada que a criatura 'jogada no abismo da existência' (veja Heidegger aqui) compartilha com o Deus que não só a cria e salva, como sofre juntamente com ela.

Não é uma crueldade desnecessária, niilista, é um recurso essencial, estético, para que sua visão artística pudesse ser explorada na sua máxima clareza e intensidade. A visão: o homem jogado necessita de Deus, da transcendência, mesmo que nunca a encontre (Svidrigailov, Stavróguin, Smierdiakov).

Caio Alves Cordeiro 

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