"A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em
movimento. Vemos crescer por sobre as acácias a luz da madrugada, as aves
debicando a manhã, como a um fruto. Vemos os lagos plácidos onde nadam os
patos, os rios de águas pesadas onde os elefantes matam a sede. São coisas que
ocorrem diante dos nossos olhos, sabemos que são reais, mas estão longe, não as
podemos tocar. Algumas estão já tão longe, e o comboio avança tão veloz, que
não temos a certeza de que realmente aconteceram. Talvez as tenhamos sonhado.
Já me falha a memória, dizemos, e foi apenas o céu que escureceu."
- José Eduardo Agualusa, em "O vendedor de
passados". Rio de Janeiro: Gryphus, 2004. p. 153.
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