Adepto do fascismo, Dollfuss quis manter a Áustria
independente da Alemanha. Acabou vítima de uma tentativa fracassada de golpe
nazista em 25 de julho de 1934. A anexação desejada por Hitler se consumaria
mais tarde.
Assim como na Alemanha e na Itália, a fome, a escassez de
carvão, a alta inflação e o desemprego do período pós-guerra instauraram um
ambiente de inquietação social e dificuldade para a consolidação de um novo
regime político. Após dois anos de coalizão, o Partido Social Cristão rompeu
sua aliança com o Social Democrata. Renner ainda conseguiu manter-se no governo
até 1922, quando então os social-cristãos assumiram o poder.
A tentativa de golpe
O país alpino fervia com o crescimento do movimento operário
social-democrata e a consequente reação das forças conservadoras. Rapidamente
multiplicaram-se por todo o país milícias armadas, inclusive esquerdistas. Não
raro, as ruas das cidades transformavam-se em praça de guerra, com choques
entre os grupos, resultando em mortes e feridos.
Em 1927, os social-democratas ficaram indignados com a
absolvição dos acusados de matar um homem e uma criança num confronto em
Schattendorf e, durante um protesto em Viena, no dia 15 de julho, incendiaram o
Palácio de Justiça. A polícia reprimiu com violência. Saldo: quase 90 mortos e
mil feridos.
O episódio enfraqueceu os social-democratas e fortaleceu as
milícias conservadoras, que aumentaram sua pressão contra o regime
parlamentarista. Em 1929, o Congresso Nacional cedeu e aprovou uma mudança
constitucional, atribuindo mais poderes ao presidente, inclusive o de
dissolução do Parlamento para convocação de novas eleições. A crise econômica
mundial de 1929 só agravou a situação, alimentando as forças nacionalistas.
Ditadura nos Alpes
Em 1932, Engelbert Dollfuss assumia a chefia de governo.
Ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, o filho de agricultores estudou
Direito e engajou-se no movimento social-cristão ainda como universitário. Sua
ascensão no partido foi rápida, sendo nomeado ministro da Agricultura em 1931.
O líder social-cristão não escondia sua simpatia pelo
fascismo de Benito Mussolini na Itália. Por outro lado, temia a ingerência de
Adolf Hitler no destino do país alpino. O ditador nazista chegara ao poder na
Alemanha em janeiro de 1933, ganhando plenos poderes depois das eleições de 4
de março.
Dollfuss no poder
Coincidência ou não, o 4 de março também definiu o novo rumo
da política austríaca. Naquele dia, Dollfuss dissolveu o Conselho Nacional e
pôs fim à primeira democracia parlamentarista da Áustria. Meses depois, mais
uma cartada para garantir seu poder, afastando seus adversários à esquerda e à
direita: proibiu o Partido Comunista da Áustria (KPÖ) e a seção austríaca do
Partido Nacional-Socialista Alemão (NSDAP), de Hitler. Em fevereiro de 1934,
depois de um levante, o veto atingiu também o Partido dos Trabalhadores
Social-Democratas.
Externamente crescia a pressão de Hitler para anexar o país
vizinho. Para isto, o regime nazista promovia atentados e sabotagens na
Áustria. Em resposta, Dollfuss foi buscar proteção no apoio de Mussolini,
assinando com o ditador italiano, em março, um protocolo estreitando os laços
entre os dois países. Em maio, Dollfuss anunciava a constituição de um Estado,
de partido único, a Frente Patriótica.
Luta de classes literal
O ápice da onda de terror nazista seria atingido em 25 de
julho de 1934. Disfarçados de soldados do Exército e policiais, 154 agentes da
SS de Hitler invadiram a sede do governo austríaco em Viena. No ataque,
Dollfuss, que já havia escapado de um atentado no ano anterior, terminou
atingido por dois tiros e morreu.
Ao mesmo tempo, outro grupo de golpistas entrava nos
estúdios de transmissão da rádio estatal Ravag e divulgavam a notícia de que
Dollfuss havia passado o governo a Anton Rintelen. O golpe nazista estava se
consumando na Áustria.
No entanto, em parte do país houve forte resistência e, após
dias de combate, que resultaram na morte de quase 150 pessoas, o levante
nazista estava desfeito. Treze rebeldes foram executados e cerca de 4 mil
golpistas presos. Outros fugiram para a Iugoslávia.
Kurt Schuschnigg foi escolhido para assumir o governo e, em
1935, Rintelen foi condenado à prisão perpétua por traição à pátria. A vitória
dos nacionalistas austríacos foi, porém, apenas provisória. Hitler não deu
sossego ao novo governo, conseguindo finalmente a anexação da Áustria à
Alemanha em 1938.
Autoria Marcio Weichert
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