"O que é que tem, pensei, daqui a não muito tempo nós
dois vamos morrer; e ali mesmo na varanda eu e Coleman Silk começamos a dançar
foxtrote. Ele conduzia, e eu, na medida do possível, o seguia. Lembrei-me do
dia em que ele entrou no meu escritório abruptamente, depois de acertar o
enterro de Iris, e enlouquecido de ódio e dor me disse que eu teria de escrever
para ele o livro que contaria todos os absurdos inacreditáveis de seu caso,
culminando com o assassinato de sua mulher. Quem o visse então jamais
imaginaria que um dia ele haveria de recuperar o gosto pela insensatez da
existência, que tudo o que nele havia de lúdico e leve não fora destruído e
perdido juntamente com sua carreira, sua reputação e sua mulher fortíssima. E
se nem me ocorreu a possibilidade de rir e deixá-lo dançar sozinho na varanda,
já que era isso o que ele queria, de ficar rindo e me divertindo vendo-o dançar
-- se lhe dei a mão e deixei que ele me arrastasse por aquela varanda com chão
de pedra, foi talvez por tê-lo visto no dia em que o cadáver de Iris ainda
estava quente, porque vira como ele estava naquele dia."
Philip Roth:
Nenhum comentário:
Postar um comentário