sábado, 11 de abril de 2015

A Marca Humana

"O que é que tem, pensei, daqui a não muito tempo nós dois vamos morrer; e ali mesmo na varanda eu e Coleman Silk começamos a dançar foxtrote. Ele conduzia, e eu, na medida do possível, o seguia. Lembrei-me do dia em que ele entrou no meu escritório abruptamente, depois de acertar o enterro de Iris, e enlouquecido de ódio e dor me disse que eu teria de escrever para ele o livro que contaria todos os absurdos inacreditáveis de seu caso, culminando com o assassinato de sua mulher. Quem o visse então jamais imaginaria que um dia ele haveria de recuperar o gosto pela insensatez da existência, que tudo o que nele havia de lúdico e leve não fora destruído e perdido juntamente com sua carreira, sua reputação e sua mulher fortíssima. E se nem me ocorreu a possibilidade de rir e deixá-lo dançar sozinho na varanda, já que era isso o que ele queria, de ficar rindo e me divertindo vendo-o dançar -- se lhe dei a mão e deixei que ele me arrastasse por aquela varanda com chão de pedra, foi talvez por tê-lo visto no dia em que o cadáver de Iris ainda estava quente, porque vira como ele estava naquele dia."

 Philip Roth:

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