quinta-feira, 13 de novembro de 2014

“Páginas cheias de insetos, de moluscos, de vermes, de répteis, de batráquios, numa verdade assombrosa de dois traços, que lhes dá vida e quase movimentos. Páginas para aves. Uma página para as cegonhas, nas várias curvas do voo, nas multíplices ondulações do pescoço. Uma página de utensílios domésticos : o bule minúsculo, a chavenazinha, o fogaréu, a colher, a sertã suspensa do teto da cozinha sem chaminé, a chaleira de ferro, a garrafinha de louça para o vinho saquê, a faca, a pá, o martelo, a escudela, a serra, a raspadeira, tudo. (...) A página das feras. O barco de prazer, de carga, de pesca, de habitação, a jangada. O mundo dos deuses, o mundo da lenda, dos dragões façanhudos, das tartarugas com asas, das raposas vestindo como a gente, de quimono e sandálias. (...) A comédia dos gordos, no jogo caricatural dos seus músculos disformes, na plácida rotundidade dos enormes ventres de abóbora. A comédia dos magros, em ângulos horripilantes de esqueletos, quando lutam, quando mourejam, quando comem, quando dormem.”

(Wenceslau de Moraes. Dai-Nippon. Rio de Janeiro: Nórdica, s/d)

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