sábado, 29 de novembro de 2014

Claude Lévi-Strauss



Claude Lévi-Strauss (Bruxelas, 28 de Novembro de 1908 — Paris, 30 de Outubro de 2009), antropólogo, professor e filósofo. É considerado o fundador da antropologia estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX.
“Como etnólogo, só posso constatar que o mundo contemporâneo perdeu a fé em seus próprios valores. Sei que este não é nem o nosso problema principal, mas todos sabemos que, no final das contas, nenhuma civilização pode se desenvolver se não possui valores aos quais se agarrar profundamente. Acredito, por sinal, que nenhuma civilização possa sequer se manter na situação em que a nossa se encontra.” :
"O mundo começou sem o homem, e terminará sem ele."
"O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas."
“Nada se parece mais com o pensamento mítico que ideologia política.”
“A humanidade está constantemente às voltas com dois processos contraditórios, um tende a criar um sistema unificado, enquanto o outro visa manter ou restaurar a diversificação.”
“Cada história é acompanhada por um número indeterminado de anti-histórias, cada uma das quais é complementar a outros.”

“A ciência por si só é incapaz de responder todas as perguntas e, apesar de seu desenvolvimento, ela nunca vai.”

Marisa Soveral

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Meu Amor da Rua Onze

Aires Almeida Santos - Meu Amor da Rua Onze

Sandro Brincher | julho 18, 2011 at 2:57 pm | Categorias: banda maravilha, poemas musicados, poesia musicada, semba | Categories: aires de almeida santos, angola, música, poesia | URL: http://wp.me/pse4V-

Aires Almeida Santos nasceu em Bié,  Angola, em 1921, falecendo em 1992 na cidade de Benguela. Recebeu instrução primária em Benguela e secundária em Nova Lisboa e Sá de Bandeira. Esteve preso por atividades ligadas ao MPLA. Fixou-se em Luanda em 1961, trabalhando como contador de algumas empresas. Em 1970 ingressou no jornalismo. Foi co-fundador da União dos Escritores Angolanos - UEA.  Sua obra poética é constituída de dois únicos livros:  Meu Amor da Rua Onze (Lisboa: Edições 70, 1987) e  A Casa (Lubango: edição do autor, 1987). Seu poema mais conhecido, publicado pela primeira vez em Mákua - Antologia Poética, vol 3 (Sá da Bandeira: Publicações Imbondeiro, 1963), é justamente o que dá título ao seu primeiro livro. Meu Amor da Rua Onze não é, como muito da produção poética do período, nenhuma peça de vanguarda; tampouco pertence ao rol dos textos angolanos que buscavam, de alguma forma, denunciar o colonialismo ou tratar das injustiças do regime. É um poema de amor, simples e nostálgico, mas que tem como principal característica a musicalidade. Pois foi justamente este o elemento que motivou este post. Em uma busca aleatória por poemas musicados na web, deparei-me com esta versão em ritmo de semba feita pelos angolanos da Banda Maravilha. O vídeo contém legendas com a letra em Português e Inglês.

http://www.youtube.com/watch?v=3eYhlSV0bSY

Tantas juras nós trocámos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos nos roubámos
Tantos abraços nós demos.
Meu amor da Rua Onze,

Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais mentir.
Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
Mais fingir.

Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nós trocámos.

Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As vezes promessas, que fizemos.

Nossa maneira de amar
Era tão doida, tão louca
Qu´inda me queimam a boca
Os beijos que nos roubámos.

Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nós demos.

E agora
Tudo acabou
Terminou
Nosso romance
Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer
E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
de escultura
Cor de bronze

Meu amor da Rua Onze.

domingo, 23 de novembro de 2014

Correlação de forças

A nova equipe ministerial na área econômica não apresenta surpresas e deve manter a mesma politica econômica adotada nos últimos doze anos, desde a vitoria de Lula. É obvio que esse ministério reflete a correlação de forças que existe hoje no Congresso Nacional e na sociedade brasileira. Não vivemos uma situação revolucionaria nem temos forças hoje para uma ruptura com o PMDB. Não se faz politica seria apenas com o coração, mas sobretudo com o cérebro. Sem a aliança com o PMDB, o governo cairia. Simples assim. Se queremos uma guinada a esquerda, precisamos elevar o nível de consciência de classe dos trabalhadores e ampliarmos as manifestações de rua em defesa da reforma politica e demais mudanças politicas e sociais, sobretudo a regulamentação da mídia e a democratização do judiciário.
Claudio Daniel 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Solidão é Sempre Fundamento da Liberdade
A solidão é sempre fundamento
da liberdade. Mas também do espaço
por onde se desenvolve o alargar do tempo
à volta da atenção estrita do acto.
Húmus, e alma, é a solidão. E vento,
quando da imóvel solenidade clama
o mudo susto do grito, ainda suspenso
do nome que vai ser sua prisão pensada.
A menos que esse nome seja estremecimento
— fruto de solidão compenetrada
que, por dentro da sombra, nomeia o movimento
de cada corpo entrando por sua luz sagrada.


Fernando Echevarría

Maladie de solitude



La voie n’est pas dégagée
Vers ton cœur fermé
Comment puis-je m’engager
Avec l’espoir d’être aimé ?

Tu vis seule dans un noir enclos
Qui n’est jamais entrouvert
Son portique d’amour est clos
Murs parés d’épines sévères

Tu es à la fois loin et très proche
J’entends le cri strident de ta peur
Il sonne comme une vielle cloche
Il fait fuir les anges de l’amour

J’espère un jour te faire sortir
De cet enclos que tu crois vertueux
Tuer en toi la hantise de souffrir
Si jamais tu oses ouvrir tes yeux

J’espère un jour prendre ta main
Pour une longue et magique balade
Te faire voir qu’il y tant de chemins
Qui s’ouvrent aux belles promenades


© Assou OUCHEN

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

COPACABANA 1945


(excertos)
I
As fichas finais do jogo
foram recolhidas; fecha-se
o cassino; abre-se em fogo
o coração que devora.
Vejo em vez de eternidade
no relógio minha hora.
E se quiser vejo a tua.
Às cinco tinhas encontro
num cotovelo de rua.
As cigarras do verão
tiniam quando sugavas
teu uísque com sifão.
Às onze no Wunder Bar
por meio acaso encontravas
a mulher que anda no ar.
Às três em Copacabana
uma torpeza uterina
pestana contra pestana.
As quatro e pouco saías,
comias um boi às cinco,
às seis e meia morrias.
Às duas ressuscitavas,
às cinco tinhas encontro,
às sete continuavas.
II
A mensagem abortada
de Copacabana perde-se
na viração: não é nada.
Morre um homem na polícia.
Tantos casos. Não é nada:
os jornais dão a notícia.
Uma criança que come
restos na lata de lixo
não é nada: mata a fome.
Não é nada. A favela
pega fogo. Não é nada:
faz-se um samba para ela.
Um moço mata a família
e se mata. Não é nada:
poupa o drama à tua filha.
Uma menina estuprada.
Uma virgem cai do céu.
Nada. Copacabanada.
VI
Copacabana, golfão
sexual: soma dois corpos
mas divide solidão.
VII
Pelas piscinas suspensas,
pelas gargantas dos galos,
pelas navalhas intensas,
pelas tardes comovidas,
pelos tamborins noturnos,
pelas pensões abatidas,
eu vou por onde vou; vou
pelas esquinas da treva:
Copacabana acabou.

  Paulo Mendes Campos


LIVRO SOBRE NADA

13.
Venho de nobres que empobreceram.
Restou-me por fortuna a soberbia.
Com esta doença de grandezas:
Hei de monumentar os insetos!
(Cristo monumentou a Humildade quando beijou os
pés dos seus discípulos.
São Francisco monumentou as aves.
Vieira, os peixes.
Shakespeare, o Amor, a Dúvida, os tolos.
Charles Chaplin monumentou os vagabundos).
Com esta mania de grandeza:
Hei de monumentar as pobres coisas do chão mijadas
de orvalho.
11.
Prefiro as máquinas que servem para não funcionar:
quando cheias de areia de formiga e musgo — elas
podem um dia milagrar de flores.
(Os objetos sem função têm muito apego pelo aban-
dono)
Também as latrinas desprezadas que servem para ter
grilos dentro — elas podem um dia milagrar violetas.
(Eu sou beato em violetas)
Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam
a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho de ser imprestável!
(O abandono me protege)
8.
Nasci para administrar o à toa
o em vão
o inútil.
Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras
etc etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidades pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegeta é receber com naturalidade uma rã
no talo)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também
sabedoria mineral.
(do LIVRO SOBRE NADA, 1996)

Manoel de Barros (1916-2014)
“Páginas cheias de insetos, de moluscos, de vermes, de répteis, de batráquios, numa verdade assombrosa de dois traços, que lhes dá vida e quase movimentos. Páginas para aves. Uma página para as cegonhas, nas várias curvas do voo, nas multíplices ondulações do pescoço. Uma página de utensílios domésticos : o bule minúsculo, a chavenazinha, o fogaréu, a colher, a sertã suspensa do teto da cozinha sem chaminé, a chaleira de ferro, a garrafinha de louça para o vinho saquê, a faca, a pá, o martelo, a escudela, a serra, a raspadeira, tudo. (...) A página das feras. O barco de prazer, de carga, de pesca, de habitação, a jangada. O mundo dos deuses, o mundo da lenda, dos dragões façanhudos, das tartarugas com asas, das raposas vestindo como a gente, de quimono e sandálias. (...) A comédia dos gordos, no jogo caricatural dos seus músculos disformes, na plácida rotundidade dos enormes ventres de abóbora. A comédia dos magros, em ângulos horripilantes de esqueletos, quando lutam, quando mourejam, quando comem, quando dormem.”

(Wenceslau de Moraes. Dai-Nippon. Rio de Janeiro: Nórdica, s/d)

O sal da primeira onda



rosa esquerda, plantei eu num antigo poema virgem,
e logo ma roubaram,
logo me perderam o pequeno achado,
mas ninguém me rouba a alma,
roubam-me um erro apenas que acertava só comigo,
um umbigo, um nó,
um nome que só em mim era floral e único
Herberto Helder

Servidões (2013)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O livro sobre nada




É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.

 Manoel de Barros.



domingo, 2 de novembro de 2014

BLUES FÚNEBRE


Detenham-se os relógios, cale o telefone,
jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,
façam silêncio os pianos e o tambor sancione
o féretro que sai com seu cortejo atrás.
Aviões acima, circulando em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Pombas de luto ostentem crepe no pescoço
e os guardas ponham luvas negras como breu.
Ele era norte, sul, leste, oeste meus e tanto
meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto.
Julguei o amor eterno: quem o faz se engana.
Apaguem as estrelas: já nenhuma presta.
Guardem a lua. Arriado, o sol não se levante.
Removam cada oceano e varram a floresta.
Pois tudo mais acabará mal de hoje em diante.

W. H. Auden (Tradução: Nelson Ascher)