terça-feira, 15 de abril de 2014

"É sempre difícil estabelecer estes limites entre ficção e realidade ao escrever um romance. O historiador tem um código mais rigoroso, uma relação mais respeitosa com a realidade histórica, enquanto o romance é o reino da liberdade. Não obstante, sou muito cuidadoso com os fatos históricos reais, não gosto de alterá-los, embora, em certas ocasiões, o desenvolvimento dramático peça aos gritos alguma violação dos acontecimentos, pois a realidade, como sabemos, é dramática à sua maneira, mas não à maneira do romance. O que costumo fazer é empreender a investigação mais aprofundada possível; procuro conhecer os personagens e seus contextos com muitos detalhes, e enxergá-los por dentro, não para analisá-los, mas para dar-lhes vida. Às vezes, um simples detalhe – o amor pelos cães, por exemplo – é mais revelador a respeito de um personagem do que toda a sua atuação histórica, e é aí que o romancista deve fazer suas escolhas, e pôr em linguagem estética, em função dramática, fatos que ocorreram na realidade, que ele pensa que devem ter ocorrido de determinada maneira a partir deste conhecimento adquirido."


Leonardo Padura discute "O homem que amava os cachorros" em entrevista publicada no Estadão.

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