sábado, 20 de abril de 2013



Não procureis qualquer nexo naquilo
que os poetas pronunciam acordados,
pois eles vivem no âmbito intranquilo
em que se agitam seres ignorados.

No meio dos desertos habitados
só eles é que entendem o sigilo
dos que no mundo vivem sem asilo
parecendo com eles renegados.

Eles possuem, porém, milhões de antenas
distribuídas por todos os seus poros
aonde aportam do mundo suas penas.

São os que gritam quando tudo cala,
são os que vibram de si estranhos coros
para a fala de Deus que é sua fala.

“Neles ...nos 78 sonetos do Livro de Sonetos se compraz o autor em conceitos,metáforas e expressões de surpreendente barroquismo, barroquismo que o poeta levará à mais desabusada, e às vezes abstrusa eclosão no seu livro mais recente,Invenção de Orfeu (1952), longo poema em dez cantos, de técnicas e faturas extremamente variadas e cujo sentido profundo ainda não foi devidamente esclarecido
pela crítica e talvez não o seja nunca, pois é evidente haver nele grande carga de subconsciente a par de certas vivênvias puramente verbais. Como quer que seja, é obra poderosa, onde deparamos fragmentos de alta beleza, que são em si pequenos poemas completos." 

(Manuel Bandeira em Apresentação da Poesia Brasileira,1958)

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