"A educação brasileira, especialmente em função da
herança do regime militar tornou-se refém de um sistema disciplinar que trata
como “grade” o currículo, como “disciplina” os conteúdos, como “prova” o
dispositivo de avaliação; eliminou a filosofia e os saberes reflexivos e
críticos em prol de um modelo fundado na passividade, e na repetição. Não a
criatividade, a inteligência viva, mas o bom comportamento, a disciplina, a
ordem. Sem contar as seqüelas deixadas na sociedade, em conseqüência
especialmente do medo de pensar, de se posicionar criticamente, instaurado por
um regime que perseguiu pessoas conscientes e cultas, proibiu livros,
restringiu condutas. Os professores, os estudantes universitários e
secundaristas, os artistas, os intelectuais foram o grande alvo deste regime, e
a formação dos jovens e crianças a grande prejudicada. Durante vinte anos foi
proibido pensar na sociedade brasileira, especialmente na escola, foco de
resistência ao regime militar.
Com tudo isso, a escola acabou tornando-se um espaço
explicitamente afastado das questões que movem a vida das pessoas, dos desafios
da sociedade. Os jovens e crianças, afastados das questões humanas e sociais,
vão sendo treinados a ver o mundo apenas a partir de si mesmos, de sua condição
social. E raramente são estimulados a ler o mundo, a pensar e a atuar nesta
sociedade, com sua complexidade, com os seus jogos e contradições. Não formamos
pessoas, mas fragmentos desconectados, especialistas cada vez mais
fragmentados, desvinculados das grandes questões humanas, planetárias,
acoplados a uma parcela tão pequena da realidade que chegam a esquecer quem
são, o que buscam, e acabam guiados pelos desejos dos outros, dos mais
espertos, dos que falam mais alto...
Com os desafios trazidos pela democracia da informação, ou a
escola abre mão do sistema de repetição e passividade, em nome da produção de
saberes, da criatividade, da ação, em um espaço onde a vida seja exercida no
presente, ou se tornará obsoleta, fadada ao desaparecimento.
Viviane Mosé
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