sábado, 20 de abril de 2013



"A educação brasileira, especialmente em função da herança do regime militar tornou-se refém de um sistema disciplinar que trata como “grade” o currículo, como “disciplina” os conteúdos, como “prova” o dispositivo de avaliação; eliminou a filosofia e os saberes reflexivos e críticos em prol de um modelo fundado na passividade, e na repetição. Não a criatividade, a inteligência viva, mas o bom comportamento, a disciplina, a ordem. Sem contar as seqüelas deixadas na sociedade, em conseqüência especialmente do medo de pensar, de se posicionar criticamente, instaurado por um regime que perseguiu pessoas conscientes e cultas, proibiu livros, restringiu condutas. Os professores, os estudantes universitários e secundaristas, os artistas, os intelectuais foram o grande alvo deste regime, e a formação dos jovens e crianças a grande prejudicada. Durante vinte anos foi proibido pensar na sociedade brasileira, especialmente na escola, foco de resistência ao regime militar.

Com tudo isso, a escola acabou tornando-se um espaço explicitamente afastado das questões que movem a vida das pessoas, dos desafios da sociedade. Os jovens e crianças, afastados das questões humanas e sociais, vão sendo treinados a ver o mundo apenas a partir de si mesmos, de sua condição social. E raramente são estimulados a ler o mundo, a pensar e a atuar nesta sociedade, com sua complexidade, com os seus jogos e contradições. Não formamos pessoas, mas fragmentos desconectados, especialistas cada vez mais fragmentados, desvinculados das grandes questões humanas, planetárias, acoplados a uma parcela tão pequena da realidade que chegam a esquecer quem são, o que buscam, e acabam guiados pelos desejos dos outros, dos mais espertos, dos que falam mais alto...

Com os desafios trazidos pela democracia da informação, ou a escola abre mão do sistema de repetição e passividade, em nome da produção de saberes, da criatividade, da ação, em um espaço onde a vida seja exercida no presente, ou se tornará obsoleta, fadada ao desaparecimento.

Viviane Mosé

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