sábado, 9 de junho de 2012

Soneto XVIII

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meu cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de Vela amarelada...
Como único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada

Aves da noite! Asas de horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca.

Mario Quintana

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