sábado, 9 de junho de 2012

De que sedas se fizeram os teus dedos,
de que marfim as tuas coxas lisas,
De que alturas chegou ao teu andar
a graça de camurça com que pisas.
De que amoras maduras se espremeu
o gosto acidulado do teu seio,
De que Índias o bambu da tua cinta,
O oiro dos teus olhos, donde veio.
A que balanço de onda vais buscar
A linha serpentina dos quadris,
Onde nasce a frescura dessa fonte
Que sai da tua boca quando ris.
de que bosques marinhos se soltou
A folha de coral das tuas portas,
Que perfume te anuncia quando vens
Cercar-me de desejo a horas mortas.

José Saramago
Inventário.Poemas Possíveis.

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