quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O artista incofessável

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer  e não fazer
mas vale o inútil do fazer.
Mas não fazer para esquecer
que é inútil : nunca o esquecer
Mas fazendo o inútil sabendo
que é inútil  e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer:porque ele é mais difícil
do que não fazer, e difícil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mas direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.

João Cabral de Mello Neto
in: O Artista inconfessável, Rio de Janeiro, Objetiva,2007.

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