domingo, 23 de janeiro de 2011

Para falar de poesia

Falar de poesia é falar do nada

ou possivelmente de algumas raias externas

(onde a língua se devora)

discernindo ou determinando um desejo

penetrar este nada, uma lei, um olho

para encontrá-lo em si mesmo, presente em nada

Impossível !

A morte não pode ser trocada por outra coisa.

Sinceridade – é o processo insaciável

de transição, de flutuação, em sentido oposto,

ou seja, eu-te-amo-não-te-amo

desaparece à beira da consciência



Não há mais tempo para a expressão

Eliminada pela simultaneidade

Onde achar um homem dançando como uma vela?

Escute, como o segundo milênio

a água avança sobre as margens – algas

A pétala-da-abelha seca seus lábios: pó em seus pés

seus quadris e ombros expostos



Lembro-me do tempo quando a lâmpada de querosene

noite fria o lilás brilhava verde, como um nervo

O halo da chama do querenosene, um hemisfério esmeralda

atraía mariposas do escuro.

O arco zênite de agosto, uma foice estrelada,

revelando os traços honestos da matéria,

pálpebras rasgadas.

Uma tela e letras, esta é a estória,

arquivo pulsante do nadir e nele, como a queima

de mariposas,

a descrição da noite aparece. Os ramais

do jardim pegam fogo,

campos magnéticos de palavras aparecem, tensos,

entrelaçados ao nada. O que mais posso falar!

O que mais dizer?

Deslizando dentro de você, no delta no meio do rio

abrindo-se, como um arco,

cuja corda está corroída

pelo silêncio.

Arkadii Dragomoshchenko



Tradução: Régis Bonvicino

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