terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Gnossienne nº 1

Eu acreditei que podia amar

o teu corpo, o teu modo de insinuar o coração

nas palavras. Mas era apenas a forma como a noite

sublinhava as superfícies, eu nunca pude atravessar

essa espessura. Estavas ali para te dispores aos meus sentidos

mas crescias fora de alcance no teu próprio

pensamento. Uma distância que só serviria

aos lobos, um mau caminho arrancado às fragas.

Já só conhecia os dias onde tu os frequentavas, o sítio

em que me mantinhas era mais urgente

que o sangue. Sem dúvida que vinhas pelo meu desejo

mas eu perdia sempre alguma coisa

quando te ganhava. Às vezes era só

a minha vontade, outras vezes era toda a frase

do meu nome.

Rui Pires Cabral

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