sábado, 13 de maio de 2017

A SOFÍSTICA, A "MORTE DE DEUS" E O MARKETING POLÍTICO


(por Luiz Carlos De Oliveira e Silva)

1. A política se faz também por meio de "narrativas", como se diz hoje em dia. A isto estavam atentos, desde a fundação da democracia em Atenas, no século V a.C., Sócrates e os sofistas, cada um a seu modo.
2. O embate que opôs Sócrates e os sofistas tornou-se célebre devido ao testemunho interessado de Platão, e acabou por se constituir num dos pilares da Civilização Ocidental.
3. Pode-se dizer que Sócrates é o pai da confiança de que uma narrativa verdadeira é possível, e desejável, enquanto os sofistas são os pais da compreensão de que “tudo são narrativas em disputa”, como se diz atualmente.
4. Para os que consideram que “tudo são narrativas em disputa”, tanto na Antiguidade como na atualidade, a Verdade não é, nem pode ser, a medida dos discursos, e sim a sua eficácia em produzir efeitos na consciência dos indivíduos e das coletividades.
5. Para Sócrates, a medida do discurso, pelo contrário, deve ser a Verdade, porque só deste modo poder-se-ia produzir subjetividades potentes e livres, situação a que todos deveriam almejar.
6. Podemos dizer que os sofistas foram derrotados – porque o Ocidente fez da Verdade o seu valor supremo –, e submergiram nas trevas do recalque histórico por séculos. A concepção de que a Verdade é o valor supremo fez fortuna no Ocidente, onde descreveu uma história. Inicialmente ela foi concebida como conceito filosófico, depois se transformou em experiência religiosa, em seguida constituiu-se como critério da ciência para, por fim, desaparecer do horizonte histórico.
7. O desaparecimento do valor Verdade como o valor supremo foi anunciado por Nietzsche, na segunda metade do século XIX, como a “morte de Deus”.
8. A “morte de Deus” abriu campos extraordinariamente férteis para a criatividade humana, inclusive no terreno da religião, mas possibilitou o retorno, com força inaudita, do que esteve recalcado durante todos esses séculos: os sofistas e a sofística.
9. A “morte de Deus”, isto é, o desaparecimento do valor Verdade como o valor supremo, tornou possível, dentre outras coisas muitos positivas, práticas baseadas nos piores aspectos da sofística: marketing político, imprensa pós-factual, fake News etc., tudo o que poderíamos resumir pela expressão “pós-verdade”.
10. João Santana e Mônica Moura são marqueteiros políticos. Eles que, com seus sortilégios de mágicos de circo mambembe, estariam agora, com suas “delações premiadas”, falando a verdade?
11. Profissionais da mentira baseada no cálculo do frio interesse que são não estariam agora sendo nada mais do que marqueteiros de si mesmos? Afinal, “tudo são narrativas em disputa”?
12. Nunca saberemos por que já não é mais possível saber. Deus morreu... O verdadeiro e o falso se interpenetram e se amalgamam num todo viscoso, colorido e sedutor.
13. Sócrates e os socráticos venceram os sofistas e a sofística. Mas, apesar da duração, não foi uma vitória cabal, porque não se pode derrotar cabalmente o que pertence à nossa essência. Os derrotados estão de volta, mais vivos do que nunca. E nós não temos mais a Verdade para combatê-los...
14. A única Verdade que nos sobrou é a de que o marketing político é a verdade da política e que “tudo são narrativas em disputa”.

15. Deus morreu e levou consigo a Verdade... Para o bem e para o mal. Como combater a sofística sem o recurso à Verdade? Esta é a tarefa que se impõe....

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