sábado, 18 de março de 2017

Geração Beat


"Associada a esta tolerância, à abertura ao que não fosse expressão da ordem estabelecida, está a diversidade interna da beat. Seu caráter multicultural foi acentuado por Ginsberg, ao traçar o perfil de seus integrantes:
"Burroughs, protestante branco; Kerouac, índio norte-americano e bretão; Corso, católico italiano; eu, radical judeu; Orlovsky, russo branco; Gary Snyder, escocês-alemão; Lawrence Ferlinghetti, italiano, continental, educado na Sorbonne; Philip Lamantia, autêntico surrealista italiano; Michael McClure, escocês do meio-oeste norte-americano; Bob Kaufman, afro-americano surrealista; LeRoi Jones, poderoso negro, entre outros."
Talvez essa diversidade se relacione com características da própria sociedade norte-americana. A beat contou com negros e descendentes de imigrantes porque lá havia muitos negros e imigrantes. Mas reunir desde o filho de um morador de rua, Neal Cassady, até o descendente de uma elite econômica, William Burroughs, e do autodidata Gregory Corso, que conheceu literatura na cadeia, até Lawrence Ferlinghetti, doutorado na Sorbonne, a diferencia de movimentos europeus – e de outros lugares: nossos modernistas de 1922 têm perfis bem próximos uns dos outros. Pela primeira vez, as rebeliões artísticas anti-burguesas não foram encabeçadas exclusivamente por burgueses ou aristocratas. Vanguarda literária com adesão de proletários? Talvez. E proletarização voluntária, levando em conta as ocupações dos beats em seu período de obscuridade. Porém, mais que ao proletário, a beat se associou ao lumpen, o extrato inferior da sociedade, considerando algumas das amizades de Ginsberg, Kerouac e Burroughs, e de onde vinham Corso e Cassady. Literatura marginal por marginais.

Claudio Wiler _______Geração Beat" (L&PM, 2009). Leiam o livro todo, se possível:

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