"Associada a esta tolerância, à abertura ao que não
fosse expressão da ordem estabelecida, está a diversidade interna da beat. Seu
caráter multicultural foi acentuado por Ginsberg, ao traçar o perfil de seus
integrantes:
"Burroughs, protestante branco; Kerouac, índio
norte-americano e bretão; Corso, católico italiano; eu, radical judeu;
Orlovsky, russo branco; Gary Snyder, escocês-alemão; Lawrence Ferlinghetti,
italiano, continental, educado na Sorbonne; Philip Lamantia, autêntico
surrealista italiano; Michael McClure, escocês do meio-oeste norte-americano;
Bob Kaufman, afro-americano surrealista; LeRoi Jones, poderoso negro, entre
outros."
Talvez essa diversidade se relacione com características da
própria sociedade norte-americana. A beat contou com negros e descendentes de
imigrantes porque lá havia muitos negros e imigrantes. Mas reunir desde o filho
de um morador de rua, Neal Cassady, até o descendente de uma elite econômica,
William Burroughs, e do autodidata Gregory Corso, que conheceu literatura na
cadeia, até Lawrence Ferlinghetti, doutorado na Sorbonne, a diferencia de
movimentos europeus – e de outros lugares: nossos modernistas de 1922 têm
perfis bem próximos uns dos outros. Pela primeira vez, as rebeliões artísticas
anti-burguesas não foram encabeçadas exclusivamente por burgueses ou
aristocratas. Vanguarda literária com adesão de proletários? Talvez. E
proletarização voluntária, levando em conta as ocupações dos beats em seu
período de obscuridade. Porém, mais que ao proletário, a beat se associou ao
lumpen, o extrato inferior da sociedade, considerando algumas das amizades de
Ginsberg, Kerouac e Burroughs, e de onde vinham Corso e Cassady. Literatura
marginal por marginais.
Claudio Wiler _______Geração Beat" (L&PM, 2009). Leiam o livro todo, se possível:
Nenhum comentário:
Postar um comentário