sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Uma reflexão sobre a greve dos professores no Estado do Paraná em 2016 e uma perspectiva a respeito das inúmeras lutas que ainda teremos pela frente

Num cenário de recessão economica e de perda de direitos a greve dos professores do Paraná ocorrida em outubro de 2016 foi bastante ilustrativa para aqueles que a acompanharam de perto. De um lado, evidenciou a falta de credibilidade do Governo do Estado, esse poder que já sabíamos truculento, corrupto e que se revelou mais uma vez incapaz de honrar os compromissos assumidos, em especial por se encontrar em um contexto de alinhamento com o Governo Federal. De outro, e apesar da greve a que fomos induzidos, não podermos alegar que tenha sido ela propriamente uma"surpresa" uma vez que nós, educadores, temos o dever de reconhecer que nossa trajetória sempre foi e continuará sendo de muita luta. Para além disso, entretanto, o que verdadeiramente chamou a atenção em toda essa movimentação foram os conflitos internos da nossa própria categoria. E é a eles que, acredito, devemos dar destaque, uma vez que daqui pra frente resistir de modo coletivo e organizado será não apenas uma estratégia vital, mas, ao que parece, um desafio com algum grau de dificuldade a ser obtido. Parto do princípio de que não soubemos assimilar o fim da greve de 2015, e de que essa incapacidade de aprender com a experiência adquirida nos tem sido muito cara. Ainda nos acusamos e deixamos nos afetar pelo que ocorreu em 2015, sem respaldar-nos com a devida análise de contexto, a qual nos permitiria observar que recuar naquela ocasião foi uma opção válida pensando na manutenção do prestígio conquistado pelo movimento (uma greve de mais de 40 dias, que contou com o apoio da opinião pública e repercutiu nacionalmente influenciando outros movimentos análogos) e no fato de que assim atuando demos mostra de respeito as institucionalidades mais do que os próprios agentes do estado (o que levou a um desgaste da imagem do governador, que, recordemos, em 2014, havia sido reeleito em 1° turno e com ampla maioria e que em razão do conflito terminou 2015 com mais de 70°/. de reprovação). Queixas que desde o fim do ano passado se ouvia no dia-a-dia das escolas e que nós fingíamos ignorar refletiram-se abertamente na deflagração da greve neste segundo semestre de 2016. Internamente a atual gestão do nosso sindicato (a qual, entre erros e acertos, merece nosso voto de confiança pela magnitude da responsabilidade que carrega, estando a frente de um contingente de cerca de 70 mil pessoas) se viu obrigada a ceder aos blocos que representam estas propostas divergentes - a dos que aceitaram o fim daquela greve, a dos que não aceitaram o seu encerramento, e, a daqueles que viram nela oportunidade de tirar vantagem interna a partir dessa divisão. Isso pôde ser "lido" em 2016 na opção pela greve, apoiada pela direção da APP Sindicato na primeira assembléia do dia 13/10. Na retomada da assembléia em 22/10 que propôs a sua continuidade com uma pequena margem de vantagem (assinalando que isso ocorreu apenas dez dias depois do seu início, e que, nesse curto prazo, tenha perdido o aval da direção do sindicato, mesmo sem um fato concreto em termos de recuo do governo). Tanto quanto no encontro do dia 31/10, no qual a maioria presente deliberou pelo seu encerramento (mais uma vez com o renovado consentimento da direção sindical). Para além das assembléias, nos dias que se seguiram a deflagração da greve dos educadores assistimos a uma baixa adesão dos estabelecimentos de ensino ao movimento (mascarada pelas ocupações das escolas que, em algumas situações, serviu de tampão a essa recusa) e da grande dificuldade de convencer nossos pares quanto a ser aquele o melhor momento para lutarmos e resistirmos juntos (quem, a exemplo do redator desse texto participou desde o 1° dia, de reuniões internas para buscar convencimento e adesão nos colégios onde atua, sabe dessa dificuldade a que estou me referindo). Muitos que retornaram para as escolas depois da 2° assembléia (caso no qual me incluo),o fizeram no intuito de conquistar esse apoio interno. Isso porque, nitidamente, o que ficou claro para nós era que ele inexistia e que, de alguma forma, teria que ser obtido. Entretanto, e aí me parece residir um dos pontos principais a serem repensados. Diante da falta de entendimento e dos rivalismos revitalizados em meio a paralisação de 2016, o meio-termo necessário a esse indispensável acordo ficou ainda mais inviabilizado. Minha sugestão é a de que nos espelhemos no movimento estudantil que, entre o apolítico e o cooptado, lançou-se ao desafio da própria descoberta, ao invés da aceitação tácita dos receituários prontos do como agir, do como proceder, das ações e reações determinadas. Se há algumas verdades as quais ainda possamos recorrer nos tempos atuais são duas. I) As de que vivemos, nos mais diversos níveis institucionais, uma ampla crise de representação; e, II) A de que aceitando a base sindical como forum de representação legítima, devemos gestar em seu interior experiências novas e que possam antes de tudo serem avaliadas e compartilhadas, antes de serem julgadas e escrachadas como foram na presente ocasião. É isso ou, desculpem-me a sinceridade, quaisquer esforços futuros serão apenas formas de gastar energia à toa com disputas internas estéreis que a curto e médio prazo não nos impedirão de ser massacrados pelo rolo compressor neoliberal.


Will Coutinho Hamon

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