Uma reflexão sobre a greve dos professores no Estado do
Paraná em 2016 e uma perspectiva a respeito das inúmeras lutas que ainda
teremos pela frente
Num cenário de recessão economica e de perda de direitos a
greve dos professores do Paraná ocorrida em outubro de 2016 foi bastante
ilustrativa para aqueles que a acompanharam de perto. De um lado, evidenciou a
falta de credibilidade do Governo do Estado, esse poder que já sabíamos
truculento, corrupto e que se revelou mais uma vez incapaz de honrar os
compromissos assumidos, em especial por se encontrar em um contexto de
alinhamento com o Governo Federal. De outro, e apesar da greve a que fomos
induzidos, não podermos alegar que tenha sido ela propriamente
uma"surpresa" uma vez que nós, educadores, temos o dever de
reconhecer que nossa trajetória sempre foi e continuará sendo de muita luta.
Para além disso, entretanto, o que verdadeiramente chamou a atenção em toda
essa movimentação foram os conflitos internos da nossa própria categoria. E é a
eles que, acredito, devemos dar destaque, uma vez que daqui pra frente resistir
de modo coletivo e organizado será não apenas uma estratégia vital, mas, ao que
parece, um desafio com algum grau de dificuldade a ser obtido. Parto do
princípio de que não soubemos assimilar o fim da greve de 2015, e de que essa
incapacidade de aprender com a experiência adquirida nos tem sido muito cara.
Ainda nos acusamos e deixamos nos afetar pelo que ocorreu em 2015, sem
respaldar-nos com a devida análise de contexto, a qual nos permitiria observar
que recuar naquela ocasião foi uma opção válida pensando na manutenção do
prestígio conquistado pelo movimento (uma greve de mais de 40 dias, que contou
com o apoio da opinião pública e repercutiu nacionalmente influenciando outros
movimentos análogos) e no fato de que assim atuando demos mostra de respeito as
institucionalidades mais do que os próprios agentes do estado (o que levou a um
desgaste da imagem do governador, que, recordemos, em 2014, havia sido reeleito
em 1° turno e com ampla maioria e que em razão do conflito terminou 2015 com
mais de 70°/. de reprovação). Queixas que desde o fim do ano passado se ouvia
no dia-a-dia das escolas e que nós fingíamos ignorar refletiram-se abertamente
na deflagração da greve neste segundo semestre de 2016. Internamente a atual
gestão do nosso sindicato (a qual, entre erros e acertos, merece nosso voto de
confiança pela magnitude da responsabilidade que carrega, estando a frente de
um contingente de cerca de 70 mil pessoas) se viu obrigada a ceder aos blocos
que representam estas propostas divergentes - a dos que aceitaram o fim daquela
greve, a dos que não aceitaram o seu encerramento, e, a daqueles que viram nela
oportunidade de tirar vantagem interna a partir dessa divisão. Isso pôde ser
"lido" em 2016 na opção pela greve, apoiada pela direção da APP
Sindicato na primeira assembléia do dia 13/10. Na retomada da assembléia em
22/10 que propôs a sua continuidade com uma pequena margem de vantagem
(assinalando que isso ocorreu apenas dez dias depois do seu início, e que,
nesse curto prazo, tenha perdido o aval da direção do sindicato, mesmo sem um
fato concreto em termos de recuo do governo). Tanto quanto no encontro do dia
31/10, no qual a maioria presente deliberou pelo seu encerramento (mais uma vez
com o renovado consentimento da direção sindical). Para além das assembléias,
nos dias que se seguiram a deflagração da greve dos educadores assistimos a uma
baixa adesão dos estabelecimentos de ensino ao movimento (mascarada pelas
ocupações das escolas que, em algumas situações, serviu de tampão a essa
recusa) e da grande dificuldade de convencer nossos pares quanto a ser aquele o
melhor momento para lutarmos e resistirmos juntos (quem, a exemplo do redator
desse texto participou desde o 1° dia, de reuniões internas para buscar
convencimento e adesão nos colégios onde atua, sabe dessa dificuldade a que
estou me referindo). Muitos que retornaram para as escolas depois da 2°
assembléia (caso no qual me incluo),o fizeram no intuito de conquistar esse
apoio interno. Isso porque, nitidamente, o que ficou claro para nós era que ele
inexistia e que, de alguma forma, teria que ser obtido. Entretanto, e aí me
parece residir um dos pontos principais a serem repensados. Diante da falta de
entendimento e dos rivalismos revitalizados em meio a paralisação de 2016, o
meio-termo necessário a esse indispensável acordo ficou ainda mais
inviabilizado. Minha sugestão é a de que nos espelhemos no movimento estudantil
que, entre o apolítico e o cooptado, lançou-se ao desafio da própria
descoberta, ao invés da aceitação tácita dos receituários prontos do como agir,
do como proceder, das ações e reações determinadas. Se há algumas verdades as
quais ainda possamos recorrer nos tempos atuais são duas. I) As de que vivemos,
nos mais diversos níveis institucionais, uma ampla crise de representação; e,
II) A de que aceitando a base sindical como forum de representação legítima,
devemos gestar em seu interior experiências novas e que possam antes de tudo
serem avaliadas e compartilhadas, antes de serem julgadas e escrachadas como
foram na presente ocasião. É isso ou, desculpem-me a sinceridade, quaisquer
esforços futuros serão apenas formas de gastar energia à toa com disputas
internas estéreis que a curto e médio prazo não nos impedirão de ser
massacrados pelo rolo compressor neoliberal.
Will Coutinho Hamon
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