Outras constatação importante: os países ricos seguem
padecendo de consequências do terremoto econômico-financeiro que foi a crise de
2008. Pela primeira vez, a União Europeia, (e o “Brexit” confirma), vê ameaçada
sua coesão e até sua existência. Na Europa, a crise econômica durará ao menos
mais uma década, até pelo menos 2025.
Há crise, em qualquer setor, quando algum mecanismo deixa de
atuar, começa a ceder e acaba rompendo-se. Essa ruptura impede que o conjunto
da maquinaria siga funcionando. É o que aconteceu com a economia mundial desde
o estouro da crise das sub-primes em 2007-2008.
As consequências sociais desse cataclismo econômico foram
brutalmente inéditas: 23 milhões de desempregados na União Europeia e mais de
80 milhões de pobres… Os jovens, em particular, são as principais vítimas;
gerações sem futuro. Mas as classes médias também estão assustadas porque o
modelo neoliberal de crescimento abandonou-as à margem do caminho.
A velocidade da economia financeira de hoje é de relâmpago,
enquanto que a velocidade da política, em comparação, é de caracol. Resulta que
fica cada vez mais difícil conciliar tempo econômico e tempo político. E também
crises globais e governos nacionais. Tudo isto provoca, nos cidadãos,
frustração e angústia.
A crise global produz perdedores e ganhadores. Os ganhadores
encontram-se, essencialmente, na Ásia e nos países emergentes, que não têm uma
visão tão pessimista da situação, como os europeus. Também há muitos
ganhadores no interior dos países ocidentais, cujas sociedades encontram-se
fraturadas pela desigualdade entre ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez
mais pobres.
Na realidade, não estamos suportando uma crise, mas uma
série de crises, uma soma de crises mescladas tão intimamente umas às outras
que não conseguimos distinguir entre causas e efeitos. Porque os efeitos de
umas são as causas das outras, e assim até formar um verdadeiro sistema de
crises. Ou seja, enfrentamos uma autêntica crise sistêmica do mundo ocidental,
que afeta a tecnologia, a economia, o comércio, a política, a democracia, a
identidade, a guerra, o clima, o meio ambiente, a cultura, os valores, a família,
a educação, a juventude etc.
Extraído de análise de Ignácio Ramonet em outraspalavras.net de 15/10/2016.
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