Zeitgeist: Fatos políticos marcam a história das Olimpíadas
Desde a instrumentalização dos Jogos pelos nazistas, em
1936, o ideal de uma competição esportiva sem interferências políticas se
mostra uma utopia. Confira um histórico sobre a presença política nos Jogos
Olímpicos.
"O importante não é vencer, mas participar", diz o
slogan criado pelo Barão de Coubertin, o idealizador dos Jogos Olímpicos da era
moderna. A ideia logo se revelou tão utópica quanto a de que as competições
possam transcorrer estritamente separadas da política. Os primeiros Jogos marcadamente políticos trancorreram em
1936, em Berlim. O partido nazista, no poder, percebeu o potencial propagandístico
do evento e o usou para apresentar uma imagem positiva do regime ao mundo.
Hitler queria mostrar que, sob sua liderança, a Alemanha era uma nação em paz e
em ascensão econômica, na qual a comunidade internacional podia confiar. A
repressão política à oposição e à imprensa, bem como a perseguição aos judeus,
foram atenuadas ou disfarçadas. Elas teriam sido mais do que suficientes para
um boicote dos demais países ou mesmo para privar a Alemanha do direito de
sediar os Jogos.
Já os Jogos de Helsinque, em 1952, viram a estreia de uma
potência olímpica: a União Soviética (URSS). Era a Guerra Fria ocupando o palco
esportivo. E como nas guerras frequentemente todos os meios são válidos para se
chegar à vitória, logo as competições viraram um espaço para o jogo sujo do
doping, que ganhou uma nova dimensão a partir dos anos 1960. Os controles
médicos para verificar se atletas competiam dopados só foram introduzidos em
1968, nos Jogos do México.
Esse foi também o ano em que um país-satélite da URSS, a
Alemanha Oriental, passou a competir com delegação própria (em 1956, 1960 e
1964 houve uma única delegação alemã, reunindo atletas dos dois lados). Também
os alemães-orientais haviam percebido o potencial dos "diplomatas
esportivos" para sua aceitação como nação e consequente fim do isolamento
internacional. O resultado foi a criação de um sistema estatal de doping que
explica o sucesso excepcional dos atletas alemães-orientais.
Em 1972, em Munique, o uso político dos Jogos ganhou uma
nova dimensão quando um grupo terrorista palestino tomou como reféns 11 membros
da delegação de Israel. O objetivo declarado era chamar a atenção para a
situação nos territórios palestinos ocupados, e o resultado foi uma tragédia. A
operação de resgate da polícia alemã foi um fiasco que terminou com a morte de
todos os reféns, cinco dos oito terroristas e um policial.
Em 1976, 16 países africanos boicotaram os Jogos de Montreal
para protestar contra a participação da Nova Zelândia, que havia furado o
boicote internacional à África do Sul ao permitir que sua seleção de rugby
jogasse contra o selecionado sul-africano.
Em 1980, foi a vez de os Estados Unidos boicotarem os Jogos
de Moscou em reação à intervenção da URSS no Afeganistão. Nações muçulmanas
também aderiram ao boicote. Ao todo, o gesto dos EUA foi acompanhado por 41
países. O troco veio em 1984, nos Jogos de Los Angeles, quando a União
Soviética e boa parte do bloco comunista ficaram de fora da competição em solo
americano.
Os Jogos de 1980 foram os últimos a sofrerem com boicotes de
grandes dimensões. Mas nem por isso os Jogos Olímpicos se livraram das
manifestações políticas, como mostram as manifestações contra a presença
chinesa no Tibete durante a jornada da tocha olímpica que antecedeu os Jogos de
Pequim em 2008; e também os protestos contra o governo do presidente interino
Michel Temer, no Rio de Janeiro, em 2016.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o
objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma
compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Data 15.08.2016
Autoria Alexandre Schossler
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