domingo, 31 de janeiro de 2016

Quando Nietzsche Chorou

“Eis um homem tão oprimido pela gravidade - sua cultura, sua posição, sua família -, que jamais conheceu sua própria vontade. Tão preso à conformidade, que parece espantado quando falo de escolha, como se estivesse falando uma língua estrangeira. Quando o confronto com o fato de que permitiu que sua vida fosse um acidente, ele nega a possibilidade de escolha. Ele me diz que ninguém imerso em uma cultura dispõe de escolha.
É curioso como ele teve o conceito ao seu alcance em uma idade precoce, mas nunca desenvolveu a visão para enxergá-lo Ele era o “rapaz infinitamente promissor” - como todos nós somos -, mas nunca entendeu a natureza de sua promissão. Ele nunca compreendeu que seu dever era aperfeiçoar a natureza, superar a si mesmo, sua cultura, sua família, seu desejo, sua natureza animalesca brutal, para se tornar quem ele foi. o que ele foi. Ele nunca cresceu, ele nunca se desvencilhou de sua primeira pele: ele confundiu a promissão com a realização de objetivos materiais e profissionais. E quando alcançou esses objetivos sem jamais ter aquietado a voz que dizia “Torna-te quem tu és”, recaiu no desespero e invectivou a peça nele pregada. Mesmo agora ele não capta a verdade!
Existe esperança para ele? Ele ao menos pensa sobre as questões corretas e não recorre a embustes religiosos. Mas é medroso demais. Como lhe ensinar a se tornar rijo? Ele uma vez contou que banhos frios ajudam a enrijar a pele. Haverá uma receita para enrijar a determinação? Ele chegou à percepção de que somos regidos não pelo desejo divino, mas pelo desejo do tempo. Ele percebe que a vontade é impotente contra o “assim se deu”. Terei a habilidade de lhe ensinar a transmutar o “assim se deu” no “assim o quis”?”

— Irvin Yalom, 

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