Marcos Rolim
Acompanhei pela TV a
sessão da Câmara Federal que votou o substitutivo à PEC da redução da idade
penal. Houve de tudo, menos debate em torno de evidências. É impressionante
como as discussões transcorrem no Brasil com os oponentes esgrimindo slogans.
Alguém vai à tribuna e diz que “o povo quer a redução da idade penal”. Então,
uma deputada, com uma camisa com a imagem do filho assassinado, diz que “chegou
a hora de acabar com a impunidade”. Presumo que estas frases sejam suficientes
para a maioria dos eleitores.
É curioso ouvir políticos brasileiros clamando contra a impunidade. Sim,
porque não há segmento mais impune. Quase um terço dos deputados federais e
senadores respondem a processos criminais no Supremo. As acusações vão do
desvio do dinheiro público à grilagem, sequestro e trabalho escravo. O que
costuma ocorrer é que esta turma não é julgada. Na sessão mencionada, Paulo
Maluf se pronunciou. Eu vi, ninguém me contou. Sabem o que ele disse? Que é
preciso acabar com a impunidade. Disse também que “os direitos humanos são para
os humanos direitos”. Este slogan, uma síntese da aversão ao pensamento, foi
criado por Jorge Rafael Videla, um dos facínoras responsáveis pela tortura,
assassinato e desaparição de cadáveres na Argentina, razão pela qual foi
condenado à prisão perpétua e destituído de sua patente militar. No Brasil,
seus colegas golpistas são nomes de rua. Maluf possui várias condenações no
exterior por corrupção. Se sair do País será preso pela Interpol. Aqui,
responde a dezenas de processos por ladroagens diversas há décadas. Não há uma
só sentença com trânsito em julgado contra ele. Talvez seja o caso de se pensar
em um novo auxílio aos magistrados brasileiros. Sugiro o “auxílio faxina”, a
ser pago cada vez que um bandido rico for condenado. E a deputada que perdeu o
filho? Ela é Keiko Ota. O menino Ives Yoshiaki Ota, 8 anos, foi sequestrado,
mas terminou sendo morto porque reconheceu um dos bandidos que era policial
militar e fazia bico como segurança em loja da família. Os três sequestradores,
um motoboy e dois PMs, foram condenados a mais de 40 anos de prisão. A mãe
virou deputada e o pai vereador. Ambos defendem o agravamento de penas. Nunca
lhes ocorreu lutar pela reforma de uma polícia cujos bons policiais são cada
vez mais constrangidos por
corruptos e assassinos. O Brasil, desconfio, terminará sendo destruído pelos
slogans.
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