domingo, 19 de julho de 2015

“Essa é a razão pela qual Paulo, apóstolo das nações, não só se recusa a estigmatizar as diferenças e os costumes, mas aceita a eles se dobrar de tal modo que através delas, e nelas, passe o processo de abandono subjetivo delas. É exatamente a busca de novas diferenças, de novas particularidades onde expor o universal, que transporta Paulo para além do local do acontecimento propriamente dito (o local judaico), que o leva a deslocar a experiência, histórica, geográfica, ontologicamente. Daí uma característica militante muito reconhecível, que combina a apropriação das particularidades e a invariabilidade dos princípios, a existência empírica das diferenças e a sua inexistência essencial, não por meio de uma síntese amorfa, mas de acordo com uma série de problemas a resolver.
[...] comunistas chineses [...] “a linha de massas” [...]

Para compreendê-las, no entanto, também é preciso que a própria universalidade não se apresente com as características de uma particularidade. Somente é possível transcender as diferenças se a benevolência em relação aos costumes e às opiniões apresentar-se como uma indiferença tolerante às diferenças, a qual tem como prova material apenas poder, e saber, como narra Paulo, autopraticar as diferenças. Por isso, Paulo desconfia muito de qualquer regra, qualquer rito que possa afetar a militância universalista, designando-a, por sua vez, como portadora de diferenças e articularidades.” 
(Badiou, Universalidade e travessia das diferenças, In: A fundação do universalismo, pp. 116-117).

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