“Essa é a razão pela qual Paulo, apóstolo das nações, não só
se recusa a estigmatizar as diferenças e os costumes, mas aceita a eles se
dobrar de tal modo que através delas, e nelas, passe o processo de abandono
subjetivo delas. É exatamente a busca de novas diferenças, de novas
particularidades onde expor o universal, que transporta Paulo para além do
local do acontecimento propriamente dito (o local judaico), que o leva a
deslocar a experiência, histórica, geográfica, ontologicamente. Daí uma
característica militante muito reconhecível, que combina a apropriação das
particularidades e a invariabilidade dos princípios, a existência empírica das
diferenças e a sua inexistência essencial, não por meio de uma síntese amorfa,
mas de acordo com uma série de problemas a resolver.
[...] comunistas chineses [...] “a linha de massas” [...]
Para compreendê-las, no entanto, também é preciso que a
própria universalidade não se apresente com as características de uma
particularidade. Somente é possível transcender as diferenças se a benevolência
em relação aos costumes e às opiniões apresentar-se como uma indiferença
tolerante às diferenças, a qual tem como prova material apenas poder, e saber,
como narra Paulo, autopraticar as diferenças. Por isso, Paulo desconfia muito
de qualquer regra, qualquer rito que possa afetar a militância universalista,
designando-a, por sua vez, como portadora de diferenças e articularidades.”
(Badiou, Universalidade e travessia das diferenças, In: A fundação do
universalismo, pp. 116-117).
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