domingo, 26 de outubro de 2014

ANTES QUE SEJA TARDE

- Manuel da Fonseca (Portugal, 1911-1993)


Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
As margens do regato solitário
Onde te miras
Como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores desse país inventado
Onde tu és o único habitante.
Deixa os teus desejos sem rumo
De barco ao deus-dará
E esse ar de renúncia
Às coisas do mundo
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha, abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.


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