sexta-feira, 5 de setembro de 2014

É o êxtase langoroso...


Le vent dans la plaine Suspend son haleine.
(Favart)

É o êxtase langoroso,
É o cansaço amoroso,
É todo o bosque a vibrar
Ao enlace das aragens,
São, nas grisalhas ramagens,
Mil vozes a cochichar.
Ó o fino e fresco ciclo!
É chilreio e murmúrio,
Parece esses doces ais
Que a relva móvel suspira...
Dirias, na água que gira,
Rolar de seixos causais.
Essa alma que se lamenta
Nessa queixa sonolenta
Não seria a nossa, ai de nós?
A minha à tua enlaçada,
Exalando a humilde toada
Nesta tarde, a meia-voz?

- Paul Verlaine, em “A Voz dos Botequins e Outros Poemas”. [tradução Guilherme de Almeida]. São Paulo: Editora Hedra, 2010, p. 60-61.


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