"Deixemos que a linguagem siga o seu caminho: o homo
psychologicus é um descendente do homo mente captus.
[...].
Era necessário, por sua própria origem, que a psicologia
fosse antes isto, ao mesmo tempo em que negava sê-lo. Ela faz parte
inexoravelmente da dialética do homem moderno, às voltas com sua verdade, o que
significa que ela nunca esgotará aquilo que está ao nível dos conhecimentos
verdadeiros.
Mas, nesses compromissos tagarelas da dialética, o desatino
permanece mudo, e o esquecimento provém dos grandes dilaceramentos silenciosos
do homem.
[...].
Pouco importa o dia exato do outono de 1888 em que Nietzsche
se tornou definitivamente louco, e a partir do qual seus textos não mais
expressam filosofia, mas sim psiquiatria: todos, incluindo o cartão - postal
para Strindberg, pertencem a Nietzsche, e todos manifestam grande parentesco
com A Origem da Tragédia. Mas esta continuidade não deve ser pensada ao nível
de um sistema, de uma temática, nem mesmo de uma existência: a loucura de
Nietzsche, isto é, o desmoronamento de seu pensamento, é aquilo através do qual
seu pensamento se abre sobre o mundo moderno."
Michel Foucault
(História da Loucura, Ed.Perspectiva, 2008. p. 522-523/ 529)
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