sábado, 23 de agosto de 2014

"Deixemos que a linguagem siga o seu caminho: o homo psychologicus é um descendente do homo mente captus.

[...].
Era necessário, por sua própria origem, que a psicologia fosse antes isto, ao mesmo tempo em que negava sê-lo. Ela faz parte inexoravelmente da dialética do homem moderno, às voltas com sua verdade, o que significa que ela nunca esgotará aquilo que está ao nível dos conhecimentos verdadeiros.
Mas, nesses compromissos tagarelas da dialética, o desatino permanece mudo, e o esquecimento provém dos grandes dilaceramentos silenciosos do homem.
[...].
Pouco importa o dia exato do outono de 1888 em que Nietzsche se tornou definitivamente louco, e a partir do qual seus textos não mais expressam filosofia, mas sim psiquiatria: todos, incluindo o cartão - postal para Strindberg, pertencem a Nietzsche, e todos manifestam grande parentesco com A Origem da Tragédia. Mas esta continuidade não deve ser pensada ao nível de um sistema, de uma temática, nem mesmo de uma existência: a loucura de Nietzsche, isto é, o desmoronamento de seu pensamento, é aquilo através do qual seu pensamento se abre sobre o mundo moderno."

Michel Foucault

(História da Loucura, Ed.Perspectiva, 2008. p. 522-523/ 529)

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