sábado, 19 de outubro de 2013

sobre a recepção crítica de sua poesia.

"Só vejo vantagens nessa 'confusão' [entre música popular e poesia]. Ela foi desvantajosa, a certa altura, para a carreira literária do Vinicius, que foi muito esnobado pela universidade, pela crítica. Eu sou professor da UFRJ e até quatro, cinco anos atrás não existia uma única tese sobre Vinicius. Isso não corresponde ao seu tamanho como poeta nem à sua popularidade. Só que exatamente porque ele era um poeta popular demais, ainda que isso nunca tivesse sido dito, está na cara de que a questão é: “Se é tão popular, não pode ser bom”. Então, a idéia da poesia como uma coisa para poucos, como luxo, não combinava com esse negócio de um poeta de que todo mundo fala. Ao mesmo tempo, foi essa popularidade do Vinicius, essa junção cantor-sambista, que fez com que ele se mantivesse como poeta na memória das pessoas. Elas podem até não saber os sonetos inteiros, mas sabem meia dúzia de poemas ou de versos soltos. E mesmo que não conheçam os livros, conhecem o nome, há um carinho por Vinicius, os livros são lidos, as escolas adotam, estão nas coletâneas. Então, ele se manteve como autor mesmo com todo o desprezo que a universidade lhe deu. (...) para ele foi desvantajoso. Mas para nós é só vantagem. É só vantagem que uma dona de casa semi-alfabetizada possa cantar Dolores Duran e Vinicius."

Eucanaã Ferraz, coordenador da coleção de Vinicius de Moraes na Companhia das Letras, sobre a recepção crítica de sua poesia.



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