sexta-feira, 22 de março de 2013

VERÃO




Era verão, pela varanda entrava
a madura ondulação do trigo,
o grito lancinante dos pavões,
o cavalo na sombra ardendo em cio.

Eugênio de Andrade
Poema da despedida
Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.
- Mia Couto, no livro "Raiz de Orvalho e Outros Poemas".

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