quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

OUTRO NASCIMENTO



 Forough Farrokhzad/ Tradução livre inglês para o português realizada por Gabriela Galli, a partir do livro Once again, Another Birth. Editor: Tofighafarin, Irã.


Todo o meu ser é um cântico escuro
a perpetuar você
cântico que o levará ao amanhecer de eterno crescer e
desabrochar
Neste cântico eu suspirei você, suspirei.
Neste cântico eu uni você à árvore, à água, ao fogo.

A vida é talvez
uma longa estrada através da qual, uma mulher
carregando um cesto, passa todos os dias
A vida é talvez
uma corda com que um homem se pendura num galho
a vida é talvez uma criança voltando da escola.

A vida é talvez acender um cigarro,
repouso entorpecido entre dois atos de amor,
ou um passante confuso
que tira o chapéu para outro passante
com um sorriso vazio e um “bom dia”.

A vida é talvez o momento sem saída
quando meu olhar se destrói nos raios da iris dos seus olhos
e nisso há um sentimento
que se mescla à percepção da Lua
e da escuridão.

Numa sala, do mesmo tamanho que a solidão,
meu coração é tão grande quanto o amor
que olha os simples pretextos da sua felicidade
na bela decadência das flores de um vaso
nos brotos que você plantou no nosso jardim,
na canção dos canários
que cantam na medida da janela.

Ah
esta é a parte que me cabe
esta é a parte que me cabe
parte que me cabe
é um céu que, quando cai
a cortina, é arrancado de mim.

A parte que me cabe desce uma escada sem uso
e alcança certa podridão e nostalgia.

A parte que me cabe é um passeio triste no jardim de memórias
ao deixar a vida na dor de uma voz que me diz:
Eu gosto das suas mãos.

lantarei minhas mãos no jardim
e vou germinar, eu sei, eu sei, eu sei
e andorinhas botarão ovos
na cavidade manchada de tinta dos meus dedos.

Vestirei um par de cerejas vermelhas e idênticas, como brincos,
e enfeitarei com pétalas de dálias, as minhas unhas.

Há uma rua
onde os meninos que eram apaixonados por mim
demoram-se, ainda, com os mesmos cabelos despenteados,
pescoços finos e pernas magras.
Pensar no sorriso inocente de uma menina
que uma noite foi levada pelo vento.

Há uma rua
que meu coração roubou
dos bairros da minha infância.

Ao longo do tempo, a viagem de uma forma
insemina a linha seca do tempo,
uma forma consciente de uma imagem
voltando de uma festa num espelho.

E é dessa forma
que alguém morre
ou continua a viver.

Nenhum pescador achará uma pérola num miserável riacho
que deságua num açude.
Eu conheço uma triste fada,
que vive num mar imenso
e toca seus sentimentos mais profundos na flauta de madeira,

pouco a pouco
uma pequenina e triste fada
morre com um beijo a cada noite
e renasce com um beijo a cada amanhecer.

Nenhum comentário: