sábado, 14 de maio de 2011

A Despedida da Morte

Falo de mim porque bem sei que a vida

lava o meu rosto com o suor dos outros,

que também sou, pois sou tudo o que posto ao meu redor se cala, e é pedra, ou, água,

cicia apenas: — O teu tempo é a trava

que te impede de ter a calma clara

do chão de lajes que o sol recobre,

este esperar por tudo que não corre,

nem pára e nem se apressa, e é só estado,

e nem sequer murmura: — O que te trazem

é o riso e o lamento, o ser amado

e o roçar cada dia a tua morte,

que não repõe em ti o, sem passado,

ficar no teu escuro, pois herdaste

e legas um sussurro, um som de passos,

uma sombra, um olhar sobre a paisagem,

memória, cálcio, húmus, eis que mundo

nada rejeita, sendo pobre e triste

no esplendor que nos dá. A madrugada.

Alberto da Costa e Silva

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