quinta-feira, 7 de abril de 2011

Nictofagia

Se eu pudesse beber-te, ó noite,

Até encontrar o teu gosto,

Ou mordendo a ponta do açoite

Da tua treva no meu rosto,

Achasse a planície de lume

De que és uma aresta de estrelas

E sonhando sem peso e volume

Fosse um sonho de chão a tecê-las

E na praia de um trilo sem flauta,

Instrumento das harpas do fundo

Duma água escorrida da pauta

Da manhã mais antiga do mundo,

Me estendesses, ó noite florida

Das sementes que trazes no punho,

Uma adolescência impelida

Pelo arco das brisas de junho !

Natália Correia

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