teu medo em minhas entranhas
meu cheiro em teus pesadelos
teu gosto em minhas façanhas
meu seio te lambe os cabelos
teu dedo em minha ferida
meu tempo em tua salada
tua voz, minha chaga parida
minha vida, tua encruzilhada
meus dentes em tua paixão
teu cetro vertendo meu dia
meu luto em tua aspiração
teu riso em minha alforria
teu nome em minha doença
meu corpo em tua desdita
teu hálito em minha crença
minha alma sempre maldita
meus vales em teu caminho
teu rio me deságua em mar
minha lava te banha de cio
teu pólen me faz aflorar
meu sonho e meu dia se fundem
tua noite vagueia sem pejo
os versos em nós se confundem
e a dor se transforma em desejo
loucura é esse amor sem perdão
perdido entre os tantos que somos
rescaldo de entrega e explosão
a cura do mal que não fomos.
Lílian Maial
– Escritoras Suicidas
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