Vem! Que t’ importa que maldiga o mundo
O amor profundo que nos liga? vem;
Vem, que nos vales de cheirosas flores,
Nossos amores viçarão também.
Vem! de joelhos nos tapiz de nardo
Há de te o brado suspirar idílios,
Cantar-te a face rosejada em pranto,
O orvalho santo do frouxel dos cílios.
Pensa na sombra da floresta virgem…
Nesta vertigem … nest’amor ali!…
Aves felizes no sendal dos ramos
Seremos: vamos, que o serei por ti!
Vamos unidos como a luz ao astro
O amor da Castro na soidão lembrá-lo,
Nas longas plumas que a palmeira agita
A alma palpita de Virgínia e Paulo.
Que mais tu queres, anjo e flor? Escuta:
Quem ama luta? Não lutemos, vem!
Vamos aos vales de cheirosas flores,
Que é flor d’amores meu amor também.
Olha, de tarde quando o sol se esconde
Diz-me tu onde mais poesia viste?
Calam-se os ventos – só a brisa arrula -
O céu se azula – mas o céu é triste.
Pois bem, o bardo na soidão exprime
Na voz sublime dum arcanjo a voz:
Hei de dos seios arrancar os lírios
Dos meus delírios, pra t’os dar – a sós. -
Perdidos ambos no deserto infinito
Que sonho lindo, que visões também!
E o éter puro como véu d’estrelas…
E a chama delas a tremer além!…
“Mas quando um dia desbotar-se o prado?
Quando o valado se cobrir de gelos?
Ai! tu só vives – beija-flor – de orvalhos
Em verdes galhos de sonhares belos!
Qu’ importa o prado de cheirosas flores
Se teus amores morrerão também!”
Quando morrerem, morrerão comigo
E ao céu contigo voarei – Oh! vem!
“Oh! não! Minh’alma se coroa em flores;
Nos esplendores de celeste aurora;
Deus abençoa só amores santos
Cala teus cantos: morrerás agora?”
Rita Barém de Melo
(Rio Grande, julho de 1867)
Fonte:Blog Leituras Favre
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