domingo, 28 de novembro de 2010

Sobre o Amor

Quando o amor vier ter convosco,



Seguros embora os seus caminhos sejam árduos e sinuosos.



E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, embora a espada oculta sob

as asas vos possa ferir.



E quando ele falar convosco, acreditai,



Embora a sua voz possa abalar os vossos sonhos como o vento do norte

devasta o jardim.



Pois o amor, coroando-vos, também vos sacrificará. Assim como é para o

vosso crescimento também é para a vossa decadência.



Mesmo que ele suba até vós e acaricie os mais ternos ramos que tremem ao

sol,



Também até às raízes ele descerá e abaná-las-à



Enquanto elas se agarram à terra.



Como molhos de trigo ele vos junta a si.



Vos amanha para vos pôr a nu.



Vos peneira para vos libertar das impurezas.



Vos mói até à alvura.



Vos amassa até vos tomardes moldáveis;



E depois entrega-vos ao seu fogo sagrado, para que vos tomeis pão sagrado

para a sagrada festa de Deus.



Toda estas coisas vos fará o amor até que conheçais os segredos do vosso

coração, e, com esse conhecimento, vos tomeis um fragmento do coração da

Vida.



Mas se, receosos, procurardes só a paz do amor e o prazer do amor,



Então é melhor que oculteis a vossa nudez e saiais do amor,



Para o mundo sem sentido onde rireis, mas não com todo o vosso riso, e

chorareis mas não com todas as vossas lágrimas.



O amor só se dá a si e não tira nada senão de si.



O amor não possui nem é possuído;



Pois o amor basta-se a si próprio.



Gibran Khalil Gibran in O Profeta, 1923

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