segunda-feira, 21 de junho de 2010

De uma ranhura

Elisa Biagini


escrevo-me entre as

ranhuras, nos nós

do lenho, com a

sujeira embaixo do tapete:



o escuro, que espera

entrar, gruma-se

de olheiras.



*



como na folha

enrrugada

que se alisa

resta a

marca

ranhura

que nos colore

a tinta.

(nós nos encharcamos

de infinitas arestas)


*



só me avistam

em contraluz,

matéria como

clara de ovo,

pátina através dos poros

pelo entalhe:

um alfabeto braille

de ossos sequiosos

por sair.



*



e o dorso

ranha-se, estojo

de sementes

que empurram,

apartam-se em galhos,

moita de dedos

que nunca toca,

corta o ar a unhaço.



Tradução: Aurora Bernardini e Régis Bonvicino



Da una crepa

mi scrivo tra le

crepe, nei nodi

del legno, nella

polvere sotto il tappeto:



il buio, che aspetta

d’entrare, s’aggruma

d’occhiaie.


*

come su foglio

accartocciato

che si liscia

resta il

segno

crepa

a coloraci

l’inchiostro.



(noi ci imbeviamo

d’infiniti spigoli.)


*

mi si vede solo

in controluce,

materia come

chiara d’uovo,

patina gocciolata

dalla crepa:

un alfabeto braille

d’ossa che vogliono

uscire.


*


e la schiena si

crepa, astuccio

di semi

che spingono,

che s’aprono in rami,

cespuglio di dita

che mai giunge a toccare,

che taglia l’aria d’unghia.



Fonte SIBILA



Elisa Biagini nasceu em Florença, Itália, em 1970, onde se formou em História da Arte Contemporânea. Logo em seguida ao mestrado, mudou-se para os Estados Unidos para estudar e escrever uma tese de doutorado em Literatura Italiana Contemporânea. Trabalhou como professora em universidades norte-americanas, onde viveu por cinco anos. Seus poemas têm sido publicados em revistas literárias italianas importantes. Elisa Biagini publicou dois livros de poemas: Questi nodi (1993) e Uova (1999), este em versão bilíngüe italiano/inglês. Além disso, é tradutora da poesia de Sharon Olds e de Alicia Ostriker.

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